| CRÍTICAS | Solum

Diogo Morgado já fez quase de tudo na sua carreira de actor. Televisão, cinema, Hollywood e teatro. E, neste último, até já foi encenador, se bem que a coisa não correu propriamente bem. Em 2001, a peça que escreveu saía de cena mais cedo depois de acusações de semelhanças a O Clube. Faltava então a Diogo Morgado experimentar a realização, algo que acontece agora com Solum.

Solum começa logo por quebrar dois mitos do cinema nacional. O de que não há cinema de género (e de ficção-científica) em Portugal; e o de que não há cinema independente. Diogo Morgado não só decide fazer um sci-fi tuga, como o faz com fundos próprios e o apoio do governo açoriano, onde foi filmar.

Solum é então o nome da ilha para onde vão os oito concorrentes de um novo reality show. O objectivo é sobreviver, sozinho, numa ilha deserta. O último a desistir ganha. Mas como não há propriamente nada para fazer, o reality show adivinha-se uma seca. Além disso, não existem câmaras em lado nenhum, excepto uma espécie de telemóveis onde gravam às vezes umas instastories.
Worst.
Reality.
Show.
Ever!
(ler com a voz do Comic Book Store Guy)

Esta é uma premissa batida que até o cinema português, que não tem cinema de género, já tem um filme semelhante (olá RPG, estás bom? Como está o Rutger Hauer?). Mas Solum é mais do que o mero survivor movie. Afinal, o reality show é apenas fachada para um plot twist enorme, aliens, o próprio Diogo Morgado de olhos azuis brilhantes, buracos no argumento e uma mensagem ecológica bem óbvia.

Como o argumento tem o nível de um teatrinho de escola – não faltando os diálogos confusos e, ao mesmo tempo, demasiado palavrosos para explicarem o inexplicável -, Solum limita-se a passar grande parte do tempo a deambular pelas paisagens dos Açores. O que levanta a questão: como é que não há mais gente a filmar ali?

A forma como filma os Açores é precisamente o melhor do filme. Apesar de abusar do postal de férias, existem aqui ideias de cinema, o que contrasta com as raras tentativas de se fazer aquilo que se convencionou chamar de cinema comercial português (já aqui falei de RPG, mas podemos ainda mencionar os filmes realizados por Nicolau Breyner ou o Second Life, por exemplo). Em contrapartida, os efeitos-especiais manhosos exigiam mais discrição e a banda-sonora, altamente ilustrativa, torna-se irritantemente irritante.

A ficção-científica no grande ecrã em Portugal continua a ter um nome (António de Macedo) e um título (Aparelho Voador a Baixa Altitude). Tudo o resto é paisagem. Ou um Happy Meal, se preferirem.

Título: Solum
Realizador: Diogo Morgado
Ano: 2019

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