| CRÍTICAS | Vergonha

Houve uma altura que Michael Fassbender parecia estar em todo o lado. Víamo-lo em filmes independentes, em blockbusters, em filmes de heróis… Houve uma noite que me levantei para ir fazer xixi e ele estava na casa-de-banho. Juro! E um dos principais culpados dessa omnipresença de Fassbender foi Steve McQueen. Depois de Fome, em que deu (literalmente) o corpo ao manifesto, passou a ser um dos mais requisitados actores da indústria.

Steve McQueen e Michael Fassbender repetiriam a colaboração, três anos depois, em Fome. E, mais uma vez, Fassbender punha o seu corpo à disposição do cinema de McQueen. Desta vez não foi preciso nenhuma transformação extrema; foi apenas alguns nus frontais, cenas de sexo mais ou menos gráfico e um certo depuramento pelo corpo, o que, diga-se de passagem, também só é notícia porque ele é homem. Estamos fartos de ver actrizes nuas no grande ecrã e não fazemos parágrafos tão longos sobre isso.

Fassbender é então um viciado em sexo que ainda não aceitou a condição que sofre. E isso reflecte-se no seu dia-a-dia, seja no tempo a mais que passa a ver pornografia ou a masturbar-se (incluindo no escritório), seja na relação com os outros, incluindo namoradas (que não tem, limitando-se a one night stands e prostitutas) e família (uma relação bastante disfuncional (Carey Mulligan, que há de cantar o New York New York numa versão brutal, que faz Fassbender e nós todos chorarmos de emoção). Há muita vergonha a atravessar o filme, pegando no título, mas há sobretudo muita culpa. Só não temos a certeza é se Fassbender reconhece isso.

O cinema formalista de Steve McQueen ajeita-se muito bem a cobrir os jogos de sedução de Fassbender, seja com jovens no metro, seja com mulheres mais desinibidas na discoteca. A isso há ainda a juntar algum cruising por bares gay, voyeurismo no Standard Hotel de Manhattan (se não sabem o que é, googlem) e, claro, uma orgia final.

No entanto, esse cinema gélido de McQueen faz com que Vergonha nunca seja gratuito ou sensacionalista, mantendo sempre o distanciamento correcto para com o seu actor e o tema. É incrível que, depois de um filme como este, McQueen tenha ido fazer 12 Anos Escravo, que apesar de não ser mau, tem Oscar escrito em todo o lado. Este McChicken é cem vezes melhor que esse outro.

Título: Shame
Realizador: Steve McQueen
Ano: 2011

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