| CRÍTICAS | Fúria Cega

Quando se discute cinema com alguém, um dos mais injustos raciocínios que existe é aquele que se inicia com “heróis cegos no cinema” e que, invariavelmente, termina com os nomes do Zatoichi e do Demolidor. É que Nick Parker é geralmente esquecido ou simplesmente ignorado. Nada mais injusto, uma vez que este não é nenhuma espécie de parente pobre, como querem passar querer. Antes pelo contrário.

Fùria Cega é o verdadeiro filme de acção, o cinema xunga dos anos 80 no seu esplendor. É verdade que é de certa forma um rip-off de Zatoichi, mas um rip-off (muito) bem feito. Ou seja, nem muito sério, nem muito ligeiro. Um exemplo: Nick Parker (Rutger Hauer) é um veterano do Vietname, cego e mestre espadachim de artes marciais. Existe algo com mais classe que isto?

Nick Parker foi um dos soldados do Vietname considerado desaparecido em combate. No entanto, durante o tal fatídico ataque, Nick Parker ficou cego com os estilhaços de um morteiro e acabou sendo recolhido pelos vietcongues. Durante vinte anos submeteu-se a um treino intensivo de artes marciais e de manuseamento da espada (que uma simpática bengala esconde no seu interior), até estar pronto para voltar aos EUA. Quando procura um dos seus colegas militares, Frank (Terry O’Quinn), vai-se então ver envolvido num mafioso esquema de drogas desenhadas (seja isso o que for).

Rutger Hauer cria em Fúria Cega uma personagem cheia de estilo. Tem pinta, muita pinta, e convence muito mais na sua faceta de espadachim do que na de cego. No entanto, nada de preocupante. Sem efeitos mirabulantes, CGI ou coreografias wi-fu, o realizador Phillip Noyce orienta lutas corpo-a-corpo de fazer Demolidor roer-se de inveja e que nos deixam literalmente de boca aberta (apenas com alguns problemas de edição no confronto final).

Noyce tem ainda a noção de não levar o filme demasiado a sério e, para além dos dois irmãos Pike, responsáveis pelo comic relief, desenvolve uma relação muito aberta entre Nick e o petiz Billy (Brandon Call). Fica para a posterioriade a sequência num campo de milho (lembram-se de Sinais?) ou o combate final gratutio contra um japonês espadachim. Claro que depois também há o charme xunga de carros abandonados no meio do Vietname ou maus a passearam calmamente nas ruas carregados de armas até aos dentes.

Para todos os que ainda não viram esta pérola do cinema de acção e que acham que estou a exagerar ao relacioná-lo com o McRoyal Deluxe, digo-vos apenas duas coisas: Fúria Cega foi a fonte de inspiração onde Tarantino foi beber para o seu Kill Bill (e a chacina da Noiva aos Crazy99) e George Lucas para o seu Star Wars – A Ameaça Fantasma (e o seu duelo entre Obi-Wan e Darth Maul). ‘nuff said!

Título: Blind Fury
Realizador: Phillip Noyce
Ano: 1989

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