| CRÍTICAS | O Mecânico

Sempre que alguém me fala de o Mecânico, fico logo todo entusiasmado porque presumo imediatamente de que estão a falar desse clássico pouco conhecido do cinema xunga do Dolph Lundgren, para logo ficar deprimido ao perceber que, afinal, é O Mecânico com o Jason Statham. Aconteceu tantas vezes que acabei por ter de ir perceber que filme era esse, apenas para descobrir que é uma espécie de remate do filme homónimo de Charles Bronson, considerado um dos melhores títulos da sua filmografia. Este não só já consigo ver, como quer mesmo ver!

Mecânico é então calão para os assassinos a soldo no submundo do crime. E é um desses mecânicos que Charles Bronson é, trabalhando para um sindicato do crime que nunca se percebe quem é, mas que dá para ver que é pessoal tão rico quanto poderoso. Bronson é todo falinhas mansas, um solitário que tem uma visita a uma prostituta apenas para inserir no elenco a sua esposa (como em todos os outros filmes seus), vive numa mansão e que tem um método muito próprio, que fazem dele o melhor no ramo. Além de ser super-meticuloso, Bronson engendra planos de assassinato tão criativos quanto irrealistas, que incluem, por exemplo, forçar desculpas esfarrapadas para pôr um homem de mia-idade a correr e provocar um AVC(!).

Até que Bronson tem um contacto directo com a fatalidade da vida e decide que está na altura de passar o testemunho. E vê no insolente playboy do filho de um ex-associado (Jan-Michael Vincent) a pessoa perfeita, especialmente porque também há sempre nas entrelinhas umas estranha tensão homoerótica. Mas como Bronson não pede autorização ao tal sindicato do crime, estes colocam-lhe um alvo em cima. E, de repente, é o Assassinos outra vez e toda a panóplia de variações do aluno que precisa matar o mestre para assumir o seu lugar.

O Mecânico é um filme de paradoxos. Por um lado, tem um tom bastante particular, pouco comum em cinema de acção como este. É um cinema silencioso – a primeira fala do filme só acontece ao fim de um quarto de hora -, na esteira dos heróis silenciosos e com cara de quem está com dor de barriga de O Ofício de Matar ou Léon, O Profissional. Mas por outro lado é extremamente aborrecido e inconsequente, especialmente nas suas cenas de acção, com perseguições de motas interminável de tipos a dar santinhos. Quem viu um viu todos, não é preciso dez minutos disso, ok?

No final, O Mecânico torna-se numa espécie de variação em mau de um James Bond, com o seu clímax em Nápoles, mas com muita coisa boa pelo meio, como a banda-sonora de Jerry Fielding ou o final, altamente togue in cheek. Ou seja, não será propriamente o melhor filme de Charles Bronson, mas é um Cheeseburger que merece muita consideração e uma oportunidade.

Título: The Mechanic
Realizador: Michael Winner
Ano: 1972

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *