| CRÍTICAS | Mentes Perigosas

As I walk through the valley of the shadow of death.
Mentes Perigosas é um daqueles casos em que a theme song é capaz de ser bem mais popular que o filme. Quer dizer, todos associam um ao outro, mas na actualidade quantos viram o filme? E, no entanto, basta ouvirmos esse primeiro verso da cantiga para nos tornarmos imediatamente no Coolio.
Been spending most their lives, living in the gangsta’s paradise.

No entanto, é curioso ver como é Coolio que se confunde com Mentes Perigosas, quando na verdade é Bob Dylan a estrela do filme. Aliás, Mentes Perigosas antecipa o Nobel da Literatura de Dylan em mais de duas décadas, ao pôr uma professora de Inglês a ensina-lo na escola em vez de Dylan Thomas. De quem Bob Dylan é fã e tomou de empréstimo o nome artístico. Afinal de contas, isto anda tudo ligado.

Mas voltando à música, a salada de frutas que é a banda-sonora de Mentes Perigosas é um bom reflexo da salgalhada que é. É um filme cheio de hip hop porque é uma história sobre a América negra (e latina) das margens da sociedade, mas depois tem o Bob Dylan (e a Mr. Tambourine Man) como peça-chave disto tudo, apesar de que, no caso real em que o filme livremente se baseia, a professora tenha usado letras de músicas hip-hop para conquistar a atenção dos seus alunos. Mas eram os anos 90 e ai, valha-nos Deus, dar esse destaque a cantores rap, com a sua música de bandidos e meliantes. Mas como se isso não fosse suficiente, o realizador John N. Smith também não tem vergonha nenhuma em usar orquestrações manhosas sempre que sente ser necessário explicar-nos o que sentir em determinados momentos.

Quanto à história é a milésima variação do professor que muda a vida dos alunos, só que aqui junto de miúdos com obstáculos sociais, económicos ou culturais de uma turma exclusivamente negra e latina. Ou seja, O Clube dos Poetas Mortos, mas com pobres em vez de ricos. E na turma existem os arquétipos todos, interpretados por jovens actores que nunca mais fizeram nada na vida: a miúda inteligente que tem de abandonar porque fica grávida, o rebelde que está sempre a arranjar rixas, o latino que tem que comprar coisas roubadas a crédito por nação ter dinheiro para ir às lojas…

Mas o curioso é que Mentes Perigosas faz isso tudo com grande ingenuidade e, por isso, é bem mais agradável do que este texto até aqui fazia adivinhar. Porque acredita realmente que está a descobrir a pólvora e que tem coisas importantes para dizer de que foi o primeiro a lembrar-se. Na verdade, até diz um par de coisas acertadas, mas nunca são aquelas que pensar estar a dizer. Afinal, o problema daqueles miúdos é, não só, a educação, mas também a inclusão e os papeis sociais pré-determinados pelo racismo, pelo capitalismo e, podemos dize-lo, pelo patriarcado.

Mentes Perigosas é um tipo de cinema médio que Hollywood já fez mais (e melhor), que tem ainda a sorte de ter uma actriz (Michelle Pfeiffer) que sabe o que faz. E, apesar de tidos is tiros nos pés que vai dando, vê-se sem fastio, compilado numa curta hora e meia e embrulhado num McChicken delicio q.b.

Título: Dangerous Minds
Realizador: John N. Smith
Ano: 1995

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