| CRÍTICAS | Rocketman

Os biopics não costumam chegar assim tão cedo, ou pelo menos com os retratados ainda tão vivos, mas já que temos aí Rocketman vamos aproveitar para falar um bocadinho de Elton John. Talvez o filme ajude a dar alguma justiça a um músico que parece não ter o reconhecimento merecido por se ter sempre mantido à parte das cenas musicais. É que, em 1969, quando lança o primeiro disco, Elton John já não vai a tempo de integrar a British invasion; e apesar de ter ajudado a definir o estilo, nunca ninguém o refere quando se fala em glam rock. E, no entanto, lá está ele com Marc Bolan dentro do piano (e Ringo Starr vestido de urso(!)) naquele monumento fundador do género que é o Born to Boogie.

Rocketman é então o biopic que procura retratar o homem e a obra da única forma que se poderia falar de Elton John: de forma exuberante. Por isso, o realizador Dexter Fletcher encosta-se ao estilo excessivo de Baz Luhrmann e cruza-o com a tradição do music hall enquanto espectáculo total – e o musical da Warner -, criando uma extravagante onde realidade e fantasia se cruzam sem sabermos propriamente onde acaba uma e começa a outra. Podemos encarar a coisa de duas formas: que Rocketman expressa visualmente aquilo que a música de Elton John significa; ou que é o que o músico sentia sob o efeito das drogas.

Olá, o meu nome é Elton John e sou alcóolico. E cocainómano. E bulímico. E viciado em sexo, apresenta-se o músico logo na cena de abertura. De facto, os excessos fizeram parte da vida de Elton John e não podiam passar ao lado. No entanto, perante o carácter lendário e glorioso do filme, perceve-se que este possa ser acusado de glorificar as drogas e os abusos. Mas comparado com a higienizarão de Bohemian Rapsody, por exemplo, Rocketman vence por capote.

A vida de Elton John foi uma vida de sofrimento, pelo menos até aos anos 80, quando fez as pazes consigo próprio (e a música piorou consideravelmente – agora pensem!), e Rocketman esforça-se por dizer isso mesmo. Aliás, não é por acaso que o filme termina precisamente aí, com o teledisco de I’m still standing, lembrando-nos como esse foi um monumento à piroseira da década. E, ao contrário do que acontece com muitos biopics, nunca se esquece da música. E mesmo tratando Elton John de forma gloriosa, como génio predestinado ao acto da criação como algo divino, vemo-lo a trabalhar, a compor e a tocar. E isso dá-lhe pontos.

Taron Egerton é ainda um Elton John perfeito. Obviamente que ajuda ele fazer a sua própria cantoria, mas ao contrário de Rami Malek (novamente Bohemian Rapsody, mas a sua proximidade tornam as comparações inevitáveis), o que vemos aqui nunca é o actor a interpretar o músico, mas a ser o próprio Elton John. Lembra-se de dizer que Rocketman ganhava a Bohemian Rapsody por capote? Que raio, emendo o que disse, um e outro não jogam na mesma liga. Aliás, nem sequer são o mesmo esperto. Rocketman é um McBacon, com muitas limitações e bem ciente dos seus defeitos, que só devia tirar aqueles cartões finais com mensagem a beijar o cu de Elton John. Que raio foi aquilo?

Título: Rocketman
Realizador: Dexter Fletcher
Ano: 2019

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