| CRÍTICAS | Mónica e o Desejo

Para quem acha que os nórdicos, em geral, e os suecos, em particular, são o supra-sumo da civilização, poços sem fundo de virtudes e consumidores de cultura invejáveis, é porque nunca lá foi, nunca viu um filme do Ingmar Bergman ou, simplesmente, não leu uma entrevista de Ewa Frolling (uma das musas de Bergman) ao Ipsilon: somos um país de camponeses, isso está-nos no sangue e impede-nos de ir além de um interesse elementar pela cultura, afasta-nos de manifestações mais exigentes e sofisticadas.

Felizmente, existe a filmografia toda de Bergman disponível em DVD que permite acabar com algumas destas ideias feitas sobre os suecos, que afinal têm os mesmos defeitos que nós, meros mortais. E em filmes como este, Mónica e o Desejo, Bergman é quase um visionário, abordando temas que viriam a estar na ordem do dia apenas décadas mais tarde.

Mónica e o Desejo é um filme percursor em vários aspectos. Na abordagem à temática da juventude, antes de esta ter sido rotulada e ter ganho uma voz activa na sociedade (assim como um corpo e uma personalidade), ou na forma como, derrubando tabus, mostrou pela primeira vez nudez no grande ecrã. E tirando um mamilo fugaz ou uma cena em pelota por trás, a bela Harriet Andersson derrama sensualidade por todos os poros, despertando a nossa líbido à bruta, com as suas formas voluptuosas, lábios brilhantes e pouca roupa.

Mónica e o Desejo é a aventura hedonista de dois jovens (Harriet e Lars Ekborg), que fogem de barco dos seus trabalhos e obrigações para passar o verão de todos os amores numa ilha deserta. É também uma fuga à cidade e um regresso à natureza, lembrando por exemplo Aurora, que aborda a mesma dicotomia. No entanto, como isto não é o romântico A Lagoa Azul, os jovens vão ter de regressar à cidade e enfrentar as consequências dos seus actos: Harriet leva um “pãozinho no forno” e Lars tem que arranjar um trabalho sério para os sustentar a todos.

Este é o primeiro filme a dar voz à juventude e à sua rebeldia sem causa, uma vez que Harriet só se quer divertir enquanto é jovem. É um drama sobre a condição humana, filmado de forma super realista, onde os grandes planos das caras dos actores dizem mais do que as suas palavras e acções. Woody Allen viria aqui beber muito da sua forma de contar histórias sobre a vida e sobre pessoas, pessoas normais e ordinárias, com os seus problemas pessoais.

De uma simplicidade cirúrgica e uma eroticidade extrema, Mónica e o Desejo é uma das obras-primas de Bergman e um dos seus filmes que mais gosto dá em regressar de tempos a tempos. É um McRoyal Deluxe que nunca enfada.

Título: Sommaren Med Monika
Realizador: Ingmar Bergman
Ano: 1953

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