| CRÍTICAS | À Porta da Eternidade

Apenas um ano depois de A Paixão de van Gogh, Vincent van Gogh voltava a ser protagonista de mais um filme de Hollywood, marcando igualmente o regresso do realizador Julian Schnabel, oito anos após o seu último trabalho. E talvez para se redimir do desastre que foi esse Miral, Schnabel voltou a uma tema que lhe é querido (ele próprio foi pintor antes de se dedicar à sétima arte) e que lhe valeu um dos seus melhores filmes (alguém menciona Basquiat?).

À Porta da Eternidade fixa-se nos últimos anos de vida de van Gogh, deixando de fora a sua infância, o seu crescimento e a sua aprendizagem. Mas aborda, mais ou menos de leve, a sua relação próxima com o irmão Theo ou com o pintor Gauguin, a sua obsessão pela Natureza e, claro, a sua loucura, construindo com um par de pinceladas um Vincent van Gogh para totós: um pintor com tanto de génio quanto de louco, com um determinado gosto por girassóis e uma orelha a menos.

O que Schnabel pretende é captar a essência da obra de van Gogh, o que não deixa de ser de louvar, já que a maioria dos biopics se centra sobretudo no homem e raramente na sua obra. Por um lado lembramo-nos de Klimt e, sobretudo, de Mr. Turner, mas enquanto neste último a relação do pintor com a sua obra era de trabalho, a que Schnabel constrói para van Gogh é de agraciado pelos Deuses com um dom especial. Como se isso não bastasse, este van Gogh até tem dotes de predestinação, já que em diálogo com um padre (numa curta aparição de Mads Mikkelsen) refere que talvez Deus lhe tenha dado esse dom de pintar para as pessoas do futuro.

Mas o pior de À Porta da Eternidade é a forma como Julian Schnabel o filma. Talvez influenciado pelas imagens bonitas de Terence Mallick ou pela liberdade do Dogma 95 (e de Ondas de Paixão em particular), o norte-americano parece um estudante do primeiro ano de Cinema fascinado com a liberdade da câmara de filmar, rodando longas sequências de van Gogh a sentir coisas(!). Tudo isto pontuado por um piano minimalista, num dos clichés mais batidos de todo o cinema pseudo-intelectual.

A sorte de À Porta da Eternidade é que tem Willem Dafoe para o resgatar do desastre total do pretensiosismo desbragado. Dafoe volta a ser incrível, até porque fisicamente se parece assustadoramente com o pintor holandês, e é ele que carrega o filme às costas. O Happy Meal é inteirinho para si, isto porque fazer filmes impressionistas não é para qualquer um (mesmo que estejamos a falar de Julian Schnabel).

Título: At Eternity’s Gate
Realizador: Julian Schnabel
Ano: 2018

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