| CRÍTICAS | A Casa dos 1000 Cadáveres

Depois de três anos na gaveta, a estreia do músico Rob Zombie na cadeira de realizador viu, finalmente, a luz do dia com A Casa Dos 1000 Cadáveres. Rob Zombie é um tipo estranho, com um fascínio macabro pelo cinema de série z, de terror e pelos clássicos da exploitation. Uma espécie de Quentin Tarantino, mas em versão distorcida. E por isto, A Casa Dos 1000 Cadáveres não é mais do que um trabalho de amor.

O filme não tenta enganar ninguém. Até o próprio guião é o do costume: quatro adolescentes embarcam numa qualquer viagem e, devido a um furo, vão ver-se encurralados no sítio mais assustador à face da terra. Mas isto de ser o guião do costume não significa que seja mau. Já por várias vezes que deu resultado. Lembram-se de Evil Dead – A Noite Dos Mortos-Vivos?

Pois bem, aqui os quatro jovens vão parar ao bizarro circo do Capitão Spaulding (Sid Haig), uma atracção de macabras aberrações e serial killers plantada à beira da auto-estrada. Contudo, se pensavam que o Capitão Spaulding era a coisa mais macabra que podiam encontrar, então estavam bem enganados. Logo depois, os quatro jovens vão acabar por ir dar a uma casa no meio do campo povoado de rednecks psicopatas, saloios que fazem os de Fim-de-Semana Alucinante parecerem meninos de coro.

A Casa Dos 1000 Cadáveres recupera o espírito dos slashers dos anos 70 (alguém mencionou Last House On The Left?), a que Rob Zombie junta então os condimentos necessários para uma boa refeição gore: quatro jovens inocentes, alguns psicopatas doentios e muitas, muitas criaturas esquisitas. E depois faz uma coisa que é decisiva para o sucesso do filme: não se preocupa em demasia com a profundidade do argumento, preocupando-se apenas em ser demente e doentio ao máximo. E é por isso que existem mutantes, aberrações, experiências cirúrgicas, mutilações, imolações, estripamentos e muitas outras coisas do estilo.

Tudo isto é misturado num caldeirão onde surgem recortes de clássicos a preto-e-branco, flashes fugazes de cenas que podem não ter nada a ver com o resto, filtros de cores saturadas, ou, simplesmente, reconstituições a 8mm. Uma espécie de Assassinos Natos, versão terror. E apesar de não fazerem muito sentido, apenas servem para aumentar o grau de demência de A Casa Dos 1000 Cadáveres. Um género de pastiche de festim gore com uma banda-sonora apropriada.

Apesar dos lugares-comuns, A Casa Dos 1000 Cadáveres tem a vantagem de não cair nos clichés do género: os jovens ingénuos a permanecerem impávidos aos ataques dos inimigos ou o típico pensamento de olha uma sala escura e com ar assustador, deixa-me lá entrar para ver o que acontece. E mesmo assim, A Casa Dos 1000 Cadáveres redefine o conceito de choque. Esqueçam lá o que viram em Hostel.

A Casa Dos 1000 Cadáveres é um filme doentio e demente. É irrealista e difícil de suportar. Ou seja, um regalo à vista, aos ouvidos e ao coração. Que podemos pedir mais? A Casa Dos 1000 Cadáveres é mesmo O Massacre Do Texas do novo século, em termos de impacto. E o seu McRoyal Deluxe arruma a maioria dos filmes de terror dos últimos tempos.

Título: House of 1000 Corpses
Realizador: Rob Zombie
Ano: 2003

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