Alan Moore é o Maradona da banda-desenhada. E a graphic novel V For Vendetta é a sua obra prima, a sua Mão de Deus. No entanto, quando surgiu a notícia que iria ser finalmente adaptada ao cinema, temeu-se o pior. Por duas razões: a primeira, porque apesar das obras de Alan Moore apelarem bastante ao grande ecrã, ainda estava para surgir a primeira adaptação cinematográfica minimamente interessante; e a segunda, porque o nome avançado para a realização era o dos manos Wachowski (que acabaram por delegar o cargo ao tarefeiro James McTeigue, o que não faz ninguém acreditar que eles não tiveram dedo na realização).
No século XVII, o inglês Guy Fawkes tentou explodir o Parlamento Inglês como forma de protesto contra o estado das coisas. A sua tentativa saiu frustrada e o dia 5 de Novembro transformou-se em feriado nacional. Agora, séculos depois num futuro fictício, um homem revolucionário ergue-se contra a sua Inglaterra fascista e totalitária do chanceler Adam Sutler (John Hurt). Usa uma máscara de Guy Fawkes, tem a eloquência de Cyrano de Bergerac, um excelente gosto artístico e uma ideais activistas que podem confundir-se com o terrorismo à primeira vista. No entanto, o seu plano de explodir com o Parlamento inglês tem apenas o objectivo de sacudir a consciência colectiva dos ingleses. E apesar da sociedade futurista, nunca o tema foi tão actual como agora. Esse homem apelida-se simplesmente de V (Hugo Weaving). E um encontro fortuito numa noite, após o recolher obrigatório, com Evey Hammond (Natalie Portman), vai introduzir na sua vida novos valores.
Os fãs da banda-desenhada temeram o pior, mas a adaptação para o grande ecrã, apesar de pouco fiél ao original, acaba por ser positiva, com um argumento equilibrado (apesar de um último quarto de hora em fast forward), ultrapassando o seu próprio estilo de filme de acção. Ao contrário de Matrix, os irmãos Wachowski resistem à tentação do CGI, dispensando efeitos especiais extravagentes e sequências de acção mirabolantes. Existem batalhas com uma edição rápida, estilo teledisco, mas a realização é depurada e, mais importante ainda, ponderada. Tudo é filmado com uma beleza poética e um porte de tons soturnos como se de um film noir se tratasse. V movimenta-se geralmente nas sombras, em contraste com a luminosidade da bela Evey.
Se tiramos o chapéu à banda-sonora, então há que realçar o delicios momento final, em que os créditos são acompanhados ao som de Street Fighting Man, a canção mais adequada possível ao filme. E Natalie Portman tem um momento decisivo em que rapa o cabelo, cenas que são sempre fortes. Num género que cada vez abraça mais a componente deixe-o-seu-cérebro-à-porta, dá gosto ver V De Vingança. E, pela primeira vez, Alan Moore tinha uma adaptação ao cinema positiva (mesmo que ele diga que não) e logo com um Le Big Mac.
Título: V for Vendetta
Realizador: James McTeigue
Ano: 2005