Apesar de consumado o negócio que vai levar a Marvel a absorver (finalmente) os direitos dos X-Men para o seu universo cinematográfico, após anos a fio a desbaratar esse activo, a Fox decidiu mesmo assim fazer um último filme da série. Juntou o elenco do último X-Men – Apocalipse, trocou Bryan Singer por um estreante Simon Kinberg e pensou que se lixe. A minha avó costumava chamar a isto vontade de gastar dinheiro.
Como era a última vez que ia pegar nos X-Men, Kinberg decidiu adaptar uma das mais celebradas histórias do grupo de mutantes: a da Fénix Negra. Ou seja, a transformação de Jean Grey na mais poderosa criatura à face da terra e a flirtar perigosamente com o dark side. É uma história cheia de nuances e declinações existencialistas, mas que X-Men – Fénix Negra parece por se esforçar por não tocar em nenhum ou, pelo menos, só raspa-los ao de leve.
X-Men – Fénix Negra é feito de bonecos de papelão, que debitam os diálogos mais básicos e estapafúrdios desde que George Lucas ainda fazia os Star Wars, numa estrutura básica de teatrinho de escola. Como e isso não bastasse, Sophie Turner é um tremendo erro de casting no papel de Jean Grey (já o tínhamos percebido em X-Men – Apocalipse, mas parece que a Fox achou estar tudo bem), com a expressividade facial de quem está a qualquer momento a pedir para sair para ir fazer cocó.
Depois de uma cena inicial em que OS X-Men vão ao espaço resgatar uns astronautas e Jean Grey absorve uma estranha força cósmica – e que é a única cena minimamente interessante de todo o filme -, X-Men – Fénix Negra limita-se a leva-la de um lado para o outro em grande sofrimento existencial. Pelo meio, Charles Xavies (James McAvoy em modo super-frete) também se torna um sofredor, porque é ele o culpado de Jean Grey ter tanta memória reprimida; Magneto vai ser igualmente chamado à recepção, para tentarem capitalizar um pouco o nome de Michael Fassbender (e também ele vai sofrer um bocadinho); e Jennifer Lawrence, já sem paciência para se pintar de azul (há para aí uma cena com maquilhagem, de resto está sempre em modo-civil), vai deixar de sofrer porque [spoiler alert] mata a sua personagem e vai para casa calçar as pantufas enquanto diz vão-se lixar que a mim já não me lixam mais.
A rematar toda esta novela mexicana está Jessica Chastain e um bando de extraterrestres, que vão fazer com que tudo expluda numa palermice cósmica com muito CGI e pouco conteúdo. E é nisto que se transforma a Fénix Negra: numa palhaçada new age. Ah, e como se não bastasse, ainda é desbaratado o que resta do legado dos X-Men, com o Professor X a ser remetido a um papel secundário e a sua escola a ser rebaptizada de… Jean Grey. Adeus Fox, nação toques mais nos X-Men, por favor. Parecia ser difícil transformar a história da Fénix Negra num Happy Meal, mas parece que vocês o conseguiram.
Título: Dark Phoenix
Realizador: Simon Kinberg
Ano: 2019