| CRÍTICAS | Vox Lux

Existe um sentimento de estranheza em Vox Lux mal ele começa e não sabemos bem identificar o que é. Provavelmente é só a música lúgubre e aquele genérico muito palavroso e longo, mas o que é certo é que ficamos logo de pé atrás. E quando uma das primeiras coisas que vemos é um miúdo abrir fogo indiscriminadamente num liceu norte-americano, ficamos então convencidos que não há nada de banal nesta estreia na realização de Brady Corbert.

Mas não, Vox Lux não é a enésima reflexão sobre porquê é que os jovens nos Estados Unidos se matam às dezenas nas escolas. Este episódio é apenas o gatilho que faz com que Celeste (Raffey Cassidy), uma jovem sobrevivente desse massacre, se torne numa artista de sucesso internacional. Ou seja, entre uma metade de sorte e acaso e outra metade de oportunismo, Celeste acaba atrelada a Jude Law, o manager, e à irmã compositora (Stacy Martin), para crescer rápido de mais e se tornar numa estrela à escala global.

Depois Vox Lux dá um salto de 20 anos e agora Celeste é Natalie Portman, uma estrela excêntrica e provocadora, com queda para os excessos e para o falhanço na esfera pessoal. Há ali algures uma passada maior que a perna, já que é difícil engolir que aquela miúda sonsinha se torna naquela matraca que não se cala de mau feitio, enquanto que a irmã toma o lugar da sem-sal, espezinhada pelo sucesso da mana caçula.

Afinal de contas, Vox Lux é a enésima variação do peso do sucesso, assim como uma reflexão sobre a futilidade da fama. No entanto, não deixa de ser curioso de ver vir de quem vem – Brady Corbert foi um teen star que vimos pela primeira vez naquela coisa bem esquecível que foi Treze – Inocência Perdida e que, por isso, deverá saber bem sobre o que está a falar, não é? E é curioso ver também como o faz com uma segurança e maturidade inesperada para uma primeira vez na cadeira de realizador.

Vox Lux encontra paralelo em Velvet Goldmine, na forma como explora o mundo da música, tanto simbólica como literalmente. E da-lhe um pontinho de marca autoral, que tanto é a tal aura de estranheza que nunca abandona o filme como é o narrador muito palavroso e literário de Willem Dafoe (que tem um je ne se quoi de Werner Herzog).

Antes de terminar, Brady Corbet ainda nos espeta uma sequência prolongada de entretenimento puro, com o concerto de Celeste (Natalie Portman poderia ter dado uma cantora pop), como se quisesse mostrar-nos os dois lados da reflexão que nos apresenta: de um lado a inoquidade da música pop e do outro os dilemas existenciais que essa fachada esconde. Ou seja, como os subúrbios de David Lynch, que por fora são todos normalidade e que, por trás, são só bizarria e grotesco. Afinal é daí que vem a estranheza de Vox Lux. Que McBacon interessante…

Título: Vox Lux
Realizador: Brady Corbet
Ano: 2018

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