| CRÍTICAS | Hellboy

Depois de Guillermo Del Toro ter realizado dois episódios de Hellboy com razoável sucesso, tanto junto da crítica como do público, o que os engravatados decidiram fazer? Exacto, um reboot. Porque fuck logic e fuck the people. E pronto, Del Toro foi arrumado para debaixo da cama e Neil Marshall foi chamado à recepção.

Essa foi a única boa notícia dentro deste conjunto de más notícias. Neil Marshall estava há demasiado tempo perdido na televisão, a fazer episódios mais ou menos anónimos de séries que ninguém quer saber. E precisamos de Marshall no cinema e da sua costela exploitation, ele que sempre foi o mais hardcore do pessoal do splat pack.

O novo Hellboy é mais cru e mais visceral que o Hellboy de Del Toro, começando logo pelo aspecto. Quando as primeiras imagens chegaram à net, surpreenderam logo pelo ar de junkie do (anti)herói demoníaco, como se ele estivesse na metadona. Ficou para trás o look mais plástico e clean dos filmes de Guillermo del Toro, com Neil Marshall a abusar do gore (às vezes desnecessariamente, se bem que, de certa forma, gore desnecessário é algo que não existe). Hellboy é assim mais bruto que os seus antecessores.

Como reboot que é, Hellboy é inevitavelmente um filme de origem. No entanto, apesar de Neil Marshall ir remexer por alto na condição de (anti)herói de Hellboy e da sua dúvida existencial entre Bem e Mal (ele que é um demónio a lutar pelo Bem na Terra – estão a ver a contradição?) – assim como nos códigos de género do film noir -, tudo é feito de forma leviana, já que o que interessa são monstros, sangue e fogo-de-artifício. Insere-se uma personagem nova, tipo sidekick (Sasha Lane), deixa-se Abe Sapien para a sequela e monta-se uma trama à volta de uma bruxa má (Milla Jovovich), morta em tempos pelo rei Artur, por Merlin e pela Excalibur.

Depois de colocadas as peças no sítio, inicia-se a viagem por este comboio-fantasma. E o que é certo é que, pelo meio de muita masturbação digital, até existem alguns momentos que entretêm, incluindo a breve participação de Thomas Haden Church, numa espécie de Capitão Falcão dos nazis. David Harbour tem unhas para a tocar esta guitarra, sendo um Hellboy mais amargo que o de Ron Perlman, que sai beneficiado por Neil Marshall ser um gajo que abusa do humor negro. Caso consiga equilibrar estes ingrediente, a próxima sequela poderá muito bem entrar para o patamar dos Hellboys iniciais. Para já, começa com um Double Cheeseburger, que é bem melhor (sem ser propriamente bom) do que a fria recepção do público o pintou.

Título: Hellboy
Realizador: Neil Marshall
Ano: 2019

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