| CRÍTICAS | Le Mans ’66 – O Duelo

Desde que fez Walk the Line (biopic sobre um dos maiores símbolos da cultura e do imaginário dos Estados Unidos) que James Mangold tem mantido uma relação próxima com a americana. Fez o remake de O Comboio das 3 e 10 (o western, a única expressão artística inteiramente norte-americana, a par do jazz), fez um filme de super-heróis em forma de cauboiada crepuscular (olá Logan) e agora fez um filme de carros, mas dedicado a outro símbolo da identidade norte-americana: a Ford.

Le Mans ’66 – O Duelo cita a história da rivalidade entre a Ford e a Ferrari durante a década de 60, que levou a primeira a entrar no mundo das corridas automóvel para provar à segunda que era capaz de a bater no seu próprio terreno. Afinal de contas, uma e outra não podiam estar mais nas extremidades opostos do espectro da indústria automóvel. Os primeiros eram os líderes do mercado, desde que Henry Ford inventara as linhas de montagem a produção em massa de veículos; os segundos eram os líderes dos carros de luxo, feitos individualmente a à mão, numa óptica de produção completamente oposta.

Os responsáveis pelo plano desportivo da Ford vão ser, especialmente, dois homens: Carroll Shelby (Matt Damon), ex-piloto e engenheiro visionário; e Ken Miles (Christian Bale), piloto temerário e lenda das pistas. Apesar do título original do filme referir Ford versus Ferrari, os segundos estão praticamente ausentes de toda a trama. São apenas uma identidade mais ou menos difusa, que falam uma língua estranha e que assumem o papel de vilão, vagamente representadas por Enzo Ferrari (Ramo Girone), com algumas aparições a espaços.

Le Mans ’66 – O Duelo é, portanto, um filme extremamente norte-americano, alicerçado naquela ideia fundadora do sonho americano (e que é, no fundo, o mito fundador de todo o país) de que a preserverança e o trabalho árduo tudo vencem e são a recompensa perante todas as injustiças do mundo. Por isso, quando em 1966 a Ford termina a corrida de Les Mans a cruzar a linha da meta em simultâneo com os seus três carros (isto não é um spoiler, é apenas cultural geral), são os próprios Estados Unidos que se cumprem. Ao menos, James Mangold não cai na tentação de sublinhar isto a traço grosso e evita os violinos e bandeiras desfraldadas. Mas não consegue resistir a cenas e cenas durante a golden hour, porque não há nada que grite mais Estados Unidos do que esse momento muito particular do dia.

Le Mans ’66 – O Duelo é assim um filme de grande fôlego sobre esta demanda, feito de forma a cumprir sem necessariamente deslumbrar. O que faz com que saia a perder nas cenas de corrida, que são, no fundo, a razão de ser de todo o filme. Le Mans ’66 – O Duelo não tem nem a adrenalina de Rush – Duelo de Rivais, nem o hiper-realismo de Le Mans. E por falar em Rush – Duelo de Rivais, depois deste ter vindo provar que o sub-género do filme de carros também podia apelar ao espectador genérico, Le Mans ’66 – O Duelo não consegue aproveitar o ímpeto criado para sacar mais do que um Double Cheeseburger.

Título: Ford v Ferrari
Realizador: James Mangold
Ano: 2019

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