| CRÍTICAS | Matrix

A estreia de Matrix foi uma revolução brutal no mundo do cinema e em toda a cultura pop. O mundo ficou obcecado e os alicerces de Hollywood sacudiram. Ainda por cima estreou em 1999, em plena viragem do século/milénio/whatever, com tudo o que isso tem de simbólico. Basta ver, por exemplo, o impacto que teve o bullet time – que levava o esculpir do tempo de Sergio Leone a níveis insanos, copiado e recopiado até à exaustão por mais de 20 filmes em apenas 3 anos (contabilidade do IMDB).

Agora, 20 anos depois, olhamos para o filme das manas Wachowski de outra forma, graças à distância temporal. E, apesar de algumas coisas ligeiramente datadas, mantemos o fascínio. Começando logo pelo facto de Matrix estabelecer o universo cyberpunk, esse sub-género da ficção científica caracterizado por distopias, muita cibernética e hackers com o mesmo penteado que o Rui Pinto. É certo que já havia o Blade Runner – Perigo Iminente ou o Ghost in the Shell – Cidade Assombrada, mas Matrix solidifica os alicerces do género.

E por falar em Ghost in the Shell – Cidade Assombrada, é no anime que Matrix vai beber essencialmente a sua influência. Os mais críticos acusam-no de pilhar desavergonhadamente os clássicos, como Akira ou… Ghost in the Shell – Cidade Assobrada, claro. Por sua vez, os admiradores realçam o facto de ele transformar o anime em imagem real, complementado depois com mais uma série de coisas: o kung fu dos filmes de Hong Kong (com wi-fu e coreografias de Woo-Ping Yuen); referências a reis babilónicos e divindades egípcias; a sci-fi de Phillip K. Dick; e a filosofia existencialista de Heidegger.

Quanto à trama, não podia ser mais simples, em mais uma variação da alegoria da caverna, de Platão. Num futuro distópico em que as máquinas assumiram o controlo (maldita inteligência artificial!), os humanos foram encerrados numa realidade virtual onde vivem em aparentemente liberdade. No entanto, não passam de escravos presos em sonhos criados digitalmente. Um grupo de resistentes que se conseguiu libertar do sistema, liderados pelo carismático Morpheus (Laurence Fishburne) procuram o Tal, o Escolhido que irá dar início à revolução. E parece terem-no encontrado no hacker Neo (Keanu Reeves).

Por entre as dicotomias destino e aleatoriedade, crença e livre arbítrio ou ciência e religião, Matrix enche-se de efeitos especiais e sequências de acção de encher o olho (o famoso bullet time é ambos em simultâneo), que sozinhas valiam o próprio filme. Keanu Reeves começava aqui a sua incursão no kung fu, Hugo Weaving (o mau de serviço) iniciava um período em que parecia que estava em todo o lado (e estava!) e as cenas de acção nunca mais foram as mesmas. 20 anos depois, Matrix continua a saber ao mesmo Royale With Cheese do primeiro dia. E que pena foi não terem feito uma trilogia, como as manas Wachowski planeavam (viram o que fiz aqui?).

Título: Matrix
Realizador: Lana & Wachowski
Ano: 1999

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