| CRÍTICAS | À Lei da Bala

Em Hollywood, Antonio Banderas nunca conseguiu afirmar-se como um actor particularmente sério ou, pelo menos, da mesma forma como o conseguiu em Espanha. Assim que atravessou o Atlântico para fazer Os Reis do Mambo levou logo com o carimbo de galã latino, cliché que depois juntou ao de action hero, após o sucesso de Desperado, em 1995. E, na maior parte das vezes, até juntou os dois arquétipos num só. A excepção terá sido, talvez, Filadélfia.

Tal como Desperado, À Lei da Bala é um filme de acção altamente estilizado e que, apesar de ir beber a outras influências, tem Robert Rodriguez escrito por todo o lado. A saber: violência estilizada a rodos, um elenco-coral de muitos nomes conhecidos (Sam Elliott na pele de um surfista-holístico-multi-milionário é o melhor de todos, mas James Van Der Beek também tem graça na sua curta aparição) e diálogos afiados na ponta da língua. Só que À Lei da Bala vai beber directamente à fonte do film noir e, especialmente, à banda-desenhada.

Aliás, À Lei da Bala é o antecessor de Sin City – Cidade do Pecado, com os seus enquadramentos recortados e com ângulos enviesados ou de perfil, como se fossem os quadradinhos de uma prancha de bd. A diferença é que troca o preto-e-branco de Sin City – Cidade do Pecado pelas cores garridas dos néons, transformando-o automaticamente num neo-noir.

O filme começa com Antonio Banderas, detective particular, fechado numa sala de interrogatório com três polícias (William Fichtner, Delroy Lindo e Thomas Kretschmann, com quem vai manter uma química muito… screwball). Cheio de escoriações, Banderas recua atrás no tempo para começar a contar o que se passou, tornando-se no narrador da sua própria história. É a estrutura narrativa clássica do noir, imortalizada em Crepúsculo dos Deuses.

Certa noite, Banderas está no seu escritório quando lhe entra adentro um gigante, Anton (Robert Maillet). Este ex-presidiário contrata-o para encontrar a sua namorada por correspondência que a) desapareceu ou b) não existe. Ela é a femme fatale Sienna Guillory e Banderas aceita o trabalho mais porque a quer encontrar para si próprio do que para aquele ex-pugilista que sofre de gigantismo.

À Lei da Bala é um filme sobre causa-efeito, que quer provar que, através de um enorme efeito-borboleta, um pequeno acontecimento faz espoletar centenas de outras exponencialmente maiores. Assim, Banderas vai saltar de um caso para outro, numa lógica de acumulação, em que os nomes secundários vão aparecendo e desaparecendo rapidamente à medida que o detective passa para a prova seguinte. É apenas uma sucessão de clichés do film-noir, que o realizador Tony Krantz vai estilizando com mais olhos do que barriga.

Até que entra em cena Sam Elliott, que está. construir um acelerador de partículas no subsolo do deserto do Novo México, e a física intromete-se no filme. É aqui que À Lei da Bala começa a ganhar alguma piada, mas rapidamente tudo se vai desenrolar numa patetada de mau CGI e alguma cosmologia new-age (que podiam muito bem estar num qualquer filme da SpectreVision, tipo o Mandy ou o Color Out of Space), em que a bota nunca bate com a perdigota. Ou seja o Double Cheeseburger fica-se mais pelas boas intenções do que por outra coisa qualquer.

Título: The Big Bang
Realizador: Tony Krantz
Ano: 2010

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