Um vivário é uma espécie de reprodução em miniatura do habitat natural de determinada espécie, para a sua observação ou conservação caseira. Ou seja, é como um aquário (ou um terrário), mas para espécies terrestres. Eu sei que o mercado imobiliário em Portugal anda pela hora da morte, mas entre escolher viver num T0 de 800 euros nos arredores de Lisboa ou num vivário, eu acho que escolhia… emigrar?
Tom (Jesse Eisenberg) e Gemma (Imogen Poots) não puderam sequer escolher. Um dia saíram para visitar casas e um vendedor imobiliário sinistro (Jonathan Aris) levou-os a um novo bairro, donde nunca mais conseguiram sair. Já todos sabemos o quão assustador pode ser a suburbia norte-americana. David Lynch mostrou-nos como é um manto de normalidade que cobre toda a degeneração da classe média americana; Truman Show – A Vida em Directo mostrou-nos como é um invólucro oco; e a Celebration… bem, mostrou-nos que, mesmo assim, existem pessoas que continuam a querer viver o american dream numa habitação com um quintal e uma cerca branca.
Mas espera aí, o que queres dizer com nunca mais conseguiram sair?, estão vocês agora a perguntar. Não há propriamente explicação para isso. Tom e Gemma vão-se ver fechados num bairro que é sempre igual, repetido até ao infinito. E quando tentam abandonar a casa, acabam sempre por chegar ao mesmo sítio, como se estivessem num loop contínuo do espaço-tempo. Estão a ver Embargo, em que havia um tipo que não conseguia sair de dentro do carro? É mais ou menos o mesmo absurdo.
E agora, plot twist: é-lhes entregue um bebé para criarem. Como assim?, perguntam vocês. Assim mesmo, um bebé, de carne e osso, que vem dentro de uma caixa, tal como todos os dias vem a comida (uma miríade de caixas genéricas e deslavadas, que tornam aquele mundo ainda mais insípido e aborrecido de morte). Esse bebé cresce mais rápido do que o normal e, além de ser tão sinistro quanto o vendedor imobiliário, tem o irritante hábito de gritar quando quer comida, de passar horas a ver estática na televisão ou a imitar um cão e de imitar os “pais”. Não há ninguém que lhe dê uns estalos?
Vivarium – A Tua Casa, Para Sempre pode ser visto como uma alegoria à vida moderna do século XXI, em que os jovens demoram cada vez mais tempo a “abandonar o ninho” (há uma cena inicial que ajuda a conjugar esta rima), ou à educação parental. Também pode ser, pela coincidência do momento em que estreia, uma excelente metáfora à vida em que estamos todos a viver de momento, confinados em casa, graças ao coronvirus Covid-19. Aliás, pode ser muito mais coisas, porque, no final, não há respostas nenhumas. Vivarium – A Tua Casa. Para Sempre levanta muitas questões, mas não responde a nenhuma.
Vivarium – A Tua Casa, Para Sempre é mais uma espécie de experiência cinematográfica, fazendo lembrar o niilista Nada. Mas Larcan Finnegan não é Vincenzo Natali e tem mais dificuldade em construir as suas alegorias, tendo até dificuldades em manter a tensão entre Tim e Gemma num crescendo exponencial. De repente, quando olhamos, um deles já está para morrer e nem percebemos porquê. Por isso, o Double Cheeseburger vale mais pelo inusitado da proposta do que pelo filme propriamente em si.
Título: Vivarium
Realizador: Larcan Finnegan
Ano: 2019