| CRÍTICAS | Garotas do Outro Espaço

O início de Garotas do Outro Espaço até podia ser um Ad Astra mais velhinho. Num futuro em que a exploração espacial é uma realidade, um grupo de astronautas dá boleia a um reputado cientista (Paul Birch) até uma estação lunar, mas um estranho fenómeno vai leva-los para um planeta distante e misterioso, governando exclusivamente por… mulheres! Com esta premissa podíamos muito bem estar presente um documento histórico de feminismo, mas… estávamos em 1958.

O planeta em questão é, claro… Vénus, ou não tivesse sido baptizado com o nome da deusa romana do Amor e da Beleza. O realizador Edward Bernds faz uma interpretação muito própria deste planeta, mais perto de uma selva exótica e colorida, onde as amazonas locais são todas jovens atraentes, de uniformes de mini-saia reminescentes do Planeta Proibido, com armas retro-futuristas e, claro, falam inglês.

Vénus é dominado por Yllana (Laurie Mitchell), a mascarada e autoritária rainha que, em tempos, liderou a revolta contra os homens, que levaram o planeta para guerras auto-destrutivas, e os aprisionou a todos numa lua-prisão. Como é que o planeta se mantém sem reprodução nunca o saberemos, porque também nunca ninguém parece achar importante levantar a questão. Rapidamente, os terráqueos vão descobrir que o próximo passo é a destruição da Terra e a sua própria morte. Felizmente, existe uma resistência que se opõe à tirania da rainha, liderada pela escultural Zsa Zsa Gabor.

Tendo em conta que Edward Bernds realizou várias coisas dos Três Estarolas, era de presumir que Garotas do Outro Espaço fosse uma comédia sci-fi, mas o realizador sempre garantiu, em entrevistas posteriores, que era tudo para ser levado a sério. O que não deixa de ser involuntariamente risível e, claro, de alguma forma triste. Porque, se de um lado, a utilização de todos os clichés do género tem a sua graça pelo absurdo e exagero (incluindo uma breve luta com um insecto gigante de borracha), por outro lado a declinação machista num filme supostamente feminista é ridícula, mesmo quando vista com os óculos do tempo.

Apesar de presos e ameaçados de morte iminente, os astronautas nunca deixam de galar as miúdas nem de fazerem piadinhas sexistas. Até porque um deles, Patrick Waltz, é um garanhão incorrigível. Mas a culpa nem sequer é deles que Zsa Zsa Gabor e a sua resistência (e a própria rainha Yllana) não consigam resistir aos seus encantos masculinos. Todos nós, homens, conhecemos bem essa maldição, que é de ter as mulheres a nossos pés quando saímos à rua e só queremos ir comprar pão.

Há ainda um plot twist, quando é revelada a motivação da tirana rainha Yllana. Afinal, ela é movida pelo mais puro ódio aos homens. Aliás, como todas as feministas, não é? E sempre que aparece sem a máscara, que esconde as suas feições desfiguradas, o realizador Edward Bernds assegura-se que todos os outros actores presentes na sala vão fazer caras de nojo, para que ela perceba que, sem uma cara bonita, é impossível ser amada e feliz. Óbvio.

Podíamos ainda falar aqui de Zsa Zsa Gabor e do facto de apenas ter tido uma carreira pelos dois palmos de cara, os nove maridos e as muita polémicas da sua vida social, já que a representação não era claramente o seu forte. Mas como vocês ainda não estão preparados para esta conversa, menção apenas para a cena em que Zsa Zsa se mascara de rainha, roubando-lhe a máscara, e dá ordens às súbditas com o seu carregado sotaque húngaro, sem que ninguém perceba. Priceless!

Garotas do Outro Espaço é uma pateada camp, muito pop e altamente cheesy. A Hamburga de Choco não só é datada, como necessita de muita cerveja e amigos a acompanhar. Porque, como diria Zsa Zsa Gabor, vimen can’t be happy vithout men.

Título: Queen of Outer Space
Realizador: Edward Bernds
Ano: 1958

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