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FIM-DE-SEMANA COM O MORTO

Tinha um amigo que dizia que os anos 80 tinham sido do caraças. E, de facto, se pensarmos bem, em que outra década foi possível fazer filmes assim? Imaginem as reuniões com produtores em que lhes impingiram ideias como “um pai tenta reconectar-se com o filho durante um torneio de braço-de-ferro” ou “o melhor segurança de discotecas do mundo vai impôr a ordem na pior discoteca dos Estados Unidos” ou ainda “um tipo viaja atrás no tempo e tem que convencer a mãe a não ter sexo consigo, mas sim com o pai”. E, no entanto, as coisas aconteciam e funcionavam. Funcionavam porque os anos 80 foram uma década em que a noção de ridículo esteve adormecida, basta olharmos para as roupas e os penteados da altura.

Fim-de-Semana com o Morto é mais um desses filmes que só poderia ter sido feito nos anos 80. Um par de amigos tem que passar um fim-de-semana numa estância balnear com o corpo do chefe morto, fingindo que ele está vivo para ninguém descobrir. Mas isso não é profanação de cadáver? Pode-se brincar com isso? Claro que é e claro que não se pode. Excepto nos anos 80. A prova? Ver este filme.

Fim-de-Semana com o Morto é um feelgood movie, com aquele espírito muito eighties em que tudo era possível. E essa espécie de dormência, que se reflecte nas roupas, nos penteados e nas músicas, reflecte-se depois em histórias como esta. Como é que ninguém vê que Bernie Lomax está morto? Como é que as pessoas interagem com ele e não percebem isso? Como é que a amante tem uma noite de sexo com ele?? Porque são os anos 80!

E quem é Bernie Lomax? Bernie Lomax, ou melhor, Terry Kiser (que merecia literalmente um Oscar, só a fazer de morto no filme todo), é o chefe de uma grande empresa de seguros de Wall Street, onde trabalha Larry (Andrew McCarthy) e Richard (Jonathan Silverman). Quando os dois descobrem um erro na facturação e a denunciam a Bernie, estão longe de pensar que é o próprio chefe que anda a roubar a empresa. E quando ele os convida para irem passar o fim-de-semana na sua casa de praia, longe deles desconfiarem que é apenas para os matar. Mas plot twist: Bernie morre primeiro. E os dois amigos terão que lidar com o corpo até domingo, porque a) Richard quer engatar a tipo gira do filme (Catherine Mary Stewart) e b) por razões.

Fim-de-Semana com o Morto é um daqueles filmes que se limita a esticar a mesma piada durante hora e meia, com muito humor físico e patetice. E a coisa é tão desmiolada que roça quase o niilismo, tendo graça e não sendo ofensivo. Os anos 80 foram mesmo do caraças. Em que outra década é que uma comédia como esta poderia receber um McRoyal Deluxe?

Título: Weekend at Bernie’s
Realizador: Ted Kotcheff
Ano: 198

FIM-DE-SEMANA COM O MORTO 2

Depois do sucesso de Fim-de-Semana com o Morto era inevitável o sabor do dinheiro obrigar a uma sequela. Mas como é que se estica por dois filmes a mesma piada? Bem, os Ramones fizeram uma carreira só com uma canção e a Academia de Polícia fez 7 filmes só com uma piada. Por isso, depois de convencidos os três protagonistas a regressarem, Fim-de-Semana com o Morto 2 estava pronto a avançar.

A sequela começa exactamente a seguir ao final do primeiro filme, com o corpo de Bernie Lomax na morgue. A ideia que se arranjou para o tirar de lá e coloca-lo nas mãos de Larry e Richard foi simples. vodu. Como assim, vodu?, perguntam vocês? Assim mesmo, vodu. Numa ilha do caribe, um antigo sócio de Bernie recorre a uma praticante de vodu para conjurar um feitiço que faça o cadáver regressar a vida e mostrar onde escondeu o dinheiro. Só que um erro no feitiço faz com que Bernie só se mexa enquanto está a escutar calipso, o que faz de Fim-de-Semana com o Morto 2 um filme de zombies.

É, provavelmente, a premissa mais medita a martelo da história do cinema, mas lá serviu para levar os suspeitos do costume para um novo destino balnear (desta vez as Ilhas Virgem), com um morto, para encontrarem uma mala cheia de dinheiro. Há ainda um interesse romântico metido com um pé-de-cabra (Troy Byer) e tudo o resto é só judiaria com o corpo de Bernie. Fim-de-Semana com o Morto 2 é apenas profanação de cadáver, ao porem Bernie numa mala, num frigorífico, a espetarem-lhe um arpão de lado a lado ou a fazerem-no puxar uma carroça como um cavalo. Not funny.

Mas Terry Kiser volta a merecer um Oscar, dando tudo a fazer de morto. Desta vez então nem sequer tem falas no filme todo, uma vez que, quando começa, ele já está morto. Mas é o melhor actor de sempre a fazer de morto e deveria ser mais recordado por isso. Pelo menos, o Happy Meal que leva daqui é inteirinho para ele.

Título: Weekend at Bernie’s 2
Realizador: Robert Klane
Ano: 1993

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