| CRÍTICAS | Seberg – Contra Todos os Inimigos

A vida de Jean Seberg tem todos os condimentos trágicos de uma daquelas biografias que valem todos os livros e filmes possíveis. Com 19 anos era lançada (literalmente) às chamas por Otto Preminger, ficando física (e emocionalmente) marcada para toda a vida; aos 22, já na Europa, assumia-se como a musa de Godard e dava a cara por toda a nouvelle vague, que despontava nesse filme-charneira que é O Acossado; antes de chegar aos 30, o FBI tentava destruir-lhe a reputação e a carreira, por causa do seu envolvimento com os Black Panthers, conseguindo inclusive que nunca mais filmasse em Hollywood; e apenas aos 41 suicidava-se, com uma saúde mental muito frágil.

Seberg – Contra Todos os Inimigos, como o subtítulo português demasiado descritivo deixa logo adivinhar, não é um biopic sobre a vida e obra de Jean Saberg, mas antes um filme sobre este período revolucionário da actriz, em que se envolveu directamente com os Black Panthers. Seberg procurava um sentido para a sua vida, não queria apenas ser uma actriz, e parecia tê-lo encontrado quando conheceu Hakim Jamal (Anthony Mackie), proeminente activista pelos direitos da América negra. No entanto, o FBI – e o seu infame (e ilegal) programa COINTELPRO – rapidamente procuraram destruir a sua reputação, considerando-a uma ameaça, levando por água abaixo também a sua reputação e a sua saúde mental.

Há uma cena em que Jean Seberg fala com a mulher de Hakim Jamal e afirma que quer fazer a diferença, ao que ela responde que, enquanto para ela, aquilo é a sua vida, para Seberg é apenas turismo. De facto, é o mesmo sentimento que sentimos ao ver Seberg – Contra Todos os Inimigos. Sentimo-nos um turista pela vida de Jean Seberg, já que este nunca consegue penetrar na pele daquela história, indo mais fundo até à ferida e limitando-se a andar por ali, a fazer-lhe apenas festas.

Seberg – Contra Todos os Inimigos devia ser uma espiral até ao abismo da psicose de Seberg, que nunca mais recuperaria de tanta perseguição e monitorização. Lembram-se de O Prodígio, em que Bobby Fischer passava por um processo semelhante? É para isso que entra em cena o inspector do FBI, Jack Solomon (Jack O’Connell), que deveria ser uma espécie de Grilo Falante da nossa consciência. Mas é apenas um voyeur, perfeitamente em sintonia com o tom levezinho do filme.

Este último parágrafo seria para falar de Kristen Stewart, que mais uma vez procura não seguir o caminho previsível de uma carreira que despontou com essa parvoíce adolescente que era o Crepúsculo. No entanto, começa a ser hora de, independentemente de toda a sua boa vontade, falarmos de que ela não é actriz para estas andanças. Mas vocês ainda não estão prontos para esta conversa. Vamos lá terminar o Double Cheeseburger primeiro, ok?

Título: Seberg
Realizador: Benedict Andrews
Ano: 2020

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