| CRÍTICAS | Esplendor na Relva

Há pouco tempo dizia em conversa que há qualquer no cinema da época clássica de Hollywood que faz com que tudo pareça ser tão melhor do que a esmagadora maioria do que se faz hoje. O meu interlocutor, perito cinéfilo, propõe que tem a ver com a forma como, constrangida por limitações financeiras e políticas, aquela gente se viu obrigada a prestar particular atenção à história e à forma como ela era contada. E sim, é isso, mas não é só isso. Há também um elemento emocional que me aquece o coração. E há também aquela que é para mim, uma era de ouro na representação caracterizada por um equilíbrio perfeito entre naturalidade e artificialidade dramática.

Esplendor na Relva é, à superfície, sobre tensão sexual entre Deanie (Natalie Wood) e Bud (Warren Beatty), dois adolescentes divididos entre o que é esperado deles e o que eles se sentem impelidos a fazer. Todo o filme parece ser uma homenagem a Freud, que nos dizia que a civilização se constrói no controlo e supressão dos nossos instintos sexuais e violentos.

É claro que aquilo que se espera de Deanie (que seja modesta, que não tenha libido, que seja submissa) é um tanto ou quanto diferente daquilo que é exigido a Bud (que seja atlético, que siga as pegadas do pai, que vá às putas). Natalie Wood tem aqui um desempenho magistral no centro de uma história toda ela povoada de pessoas em agonia. Em determinadas passagens, Esplendor na Relva faz lembrar coisas tão improváveis como A Vida Não é um Sonho, principalmente na forma como reúne um conjunto de personagens cujos dramas e angústias representam dramas e angústias comuns a uma sociedade.

É por isso que, a um nível um pouco mais profundo, Esplendor na Relva é sobre bem mais do que desejo sexual, é sobre a forma como construímos sociedades contra o indivíduo e o impacto que isso tem na nossa saúde mental. Seja no óbvio caso de Deanie e o seu internamento psiquiátrico, quer no caso de Bud que “seguiu em frente”, ambos se viram obrigados a aceitar os seus desejos como expressões de um idealismo pueril. Não o somos todos?

O autor confere a este filme um Le Big Mac.
* texto por Diogo Augusto

Título: Splendor in the Grass
Realizador: Elia Kazan
Ano: 1961

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