| CRÍTICAS | Sinner: The Secret Diary of a Nymphomaniac

Jesús Franco (ou Jess Franco, como é mais conhecido no mundo anglo-saxónico (para não falar dos mil e um pseudónimos que utilizava também)) foi um profícuo realizador que se movimentou entre os subgéneros da série b do cinema, com predominância pela erótica, o exploitation e o terror. Franco foi uma espécie de Roger Corman da Europa, que utilizava os mesmos meios para contornar o low budget (reaproveitar cenas de uns filmes para os outros, economizar com os mesmos cenários, etc.) e criar um corpo de obra que é tão grande, que consegue misturar coisas óptimas com outras tantas coisas dispensáveis.

Por entre a sua filmografia abismal, é fácil encontrar títulos pouco explorados, mas que merecem destaque dentro do seu trabalho. É o caso de Sinner: The Secret Diary of a Nymphomaniac, uma espécie de percursor do thriller erótico. Isto significa que, além de uma morte, vai haver no filme muitas maminhas à mostra e pêlos públicos.

A morte que dá mote ao filme acontece logo de início e é a do senhor Ortiz (Manuel Pereiro), um homem que é encharcado em champanhe numa boite pela prostituta Linda Vargas (Montserrat Prous), que depois o atrai para casa e corta a própria garganta para o incriminar por suicídio. A esposa do senhor Ortiz (Jacqueline Laurent) vai então falar com algumas pessoas que conheciam Linda Vargas e, de repente, o filme passa a ser contado do ponto de vista da sua amiga íntima (Anne Libert) ou do seu próprio diário.

Ficamos então a saber que Linda Vargas foi abusada ainda jovem, ao chegar pela primeira vez à cidade, e que o trauma deixou marcas profundas. A isso, Linda Vargas alia um íntimo desejo por sexo, seja com homens ou mulheres, que vai alimentando a sua vida. Por incrível que pareça, esta história não é apenas um pretexto barato para Jesús Franco ir demorando-se em cenas de sexo mais ou menos gráficas, especialmente entre mulheres.

Sinner: The Secret Diary of a Nymphomaniac consegue fazer uma viagem psicológica mais ou menos aceitável por aquela anti-heroína ninfomaníaca que, sobretudo, nos passa uma mensagem importante: qualquer julgamento que façamos de uma pessoa pela forma como lida com o sexo só prova que estamos moldados pela nossa moralidade pré-formatada e preconceituosa.

Rodeado de alguns dos seus actores habituais – Howard Vernom também se há de se juntar mais tarde -, Jesús Franco ainda pontua o filme com um outro momento mais artístico ou ousado e com uma inesperada banda-sonora stoner, cortesia dos Blue Phantom (excelente segredo bem guardado do rock stoner). No entanto, deixa de fora – de forma algo surpreendente, diga-se – o seu fascínio pelos zooms repentinos. Apesar de ter sido um realizador que flirtou de perto com a erótica, Sinner: The Secret Diary of a Nymphomaniac é um dos seus filmes mais sensuais. E um dos Cheeseburgers que valem a pena descobrir numa filmografia que também tem muitos pães com manteiga

Título: Le Journal Intime d’une Nymphomane
Realizador: Jesús Franco
Ano: 1973

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