| CRÍTICAS | Killing Season – Temporada de Caça

Quando se fala em filmes sobre a desumanização da guerra, fala-se obrigatoriamente em O Caçador. O clássico de Michael Cimino introduziu no war movie uma vertente mais pessoal e psicológica, fazendo-nos finalmente reflectir sobre esse acto absurdo que é a guerra. E a partir daí o cinema nunca mais foi o mesmo.

Robert De Niro nem sequer pode dizer que nunca viu O Caçador, porque ele participou nele. Por isso, a questão que se coloca é: o que o levou a aceitar participar num filme como Temporada de Caça? Foi uma aposta perdida? Devia um favor a alguém? O realizador Mark Steven Johnson está a morrer e isto foi um desejo final, tipo Make-a-Wish Foundation? Ou será que De Niro é mesmo muito ingénuo e achou que isto poderia ser uma actualização de O Caçador para os dias de hoje, até porque o filme é sobre a guerra da Bósnia (é?) e menciona a abrir a guerra na Síria?

Com o fim da Guerra Fria, a Sérvia assumiu em Hollywood o papel de inimigo número 1 da democracia. Temporada de Caça faz mais uma leitura muito rasa da guerra nos Balcãs no início dos anos 90 e retrata os sérvios como nazis e o fim da Jugoslávia como o Holocausto. É nesta recriação muito tosca e com efeitos-especiais dignos destes straight-to-videos que o Steven Seagal agora faz, que vemos De Niro, ao serviço dos polícias da liberdade (leia-se Estados Unidos) a executar John Travolta e mais uma série de soldados de um esquadrão paramilitar sérvio.

Vinte anos depois, Travolta afinal sobreviveu e decide ir vingar-se de De Niro, que está reformado, vive numa cabana no meio do nada, tem dificuldade em reconectar-se com o filho (e com a vida em geral) e agora dedica-se à fotografia em vez da caça. Mas Temporada de Caça não é um vengeance movie como anuncia, pelo menos na tradicional definição do termo. É que ao realizador Mark Steven Johnson interessa mais a desumanização da guerra, as sequelas psicológicas e, especialmente, a ideia de que este não é um jogo de bons e maus: todos são vítimas.

É uma mensagem nobre, mas como é que Mark Steven Johnson a decide passar: com Travolta e De Niro a caçarem-se um ao outro. Porque, como diz a tagline, o mano-a-mano é a mais pura forma de guerra. Parece que o realizador queria fazer um filme, mas os produtores tinham outra ideia. Então a coisa anda ali indecisa entre o filme de acção desmiolado, com laivos gore (e De Niro sofre como nunca sofreu, foi preciso chegar aos 60 anos para ser pendurado por gémeo(!), cair por rápidos abaixo e armar-se em survivor movie), e a sugestão do drama psicológico. E, para simplificar tudo, Mark Steven Johnson termina tudo com os dois nemésis a conversarem no topo de uma montanha, com o pôr-do-sol por trás. A normalização não podia acontecer mais rápido do que aquilo.

E depois há John Travolta, com mais uma opção capilar duvidosa (a sério, o que é que se passa ali?) e um sotaque russo risível, porque como sabemos, todos os europeus de leste falam com sotaque russo. É certo que isso ajuda a desviar a atenção dos buracos do argumento, mas não ajuda nada em melhorar o Happy Meal final.

Título: Killing Season
Realizador: Mark Steven Johnson
Ano: 2013

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