| CRÍTICAS | O Bosque de Blair Witch

Goste-se ou não, O Projecto Blair Witch foi um marco do cinema de terror. Não só por ter vindo revolucionar o found footage (se bem que a descendência só apareceria décadas depois), mas porque foi o primeiro filme a aproveitar o efeito viral da internet. Perante isso, era inevitável uma sequela, que a bem ou mal, lá apareceu uns anos depois, tendo o bom senso de não voltar a repetir o found footage. O que ninguém esperava era que, em 2016, houvesse um terceiro filme da série.

O Bosque de Blair Witch ignorava a existência do anterior O Livro das Trevas e sucede directamente a O Projecto Blair Witch. Estes anos todos depois, o irmão (James Allen McCune) da miúda do primeiro filme vê no youtube um vídeo encontrado supostamente no sítio onde a mana desapareceu e decide ir investigar. Com três amigos e mais o casal de saloios que encontraram a cassete, munidos de câmaras, um drone, GPS e GoPros (só ninguém explica como é que carregam as baterias à noite), lá regressam a Burkittsville parece se emaranharem no mesmo bosque onde tudo aconteceu em 1999.

Em 2004, chegava às mãos de um tablóide norte-americano uma sextape caseira de Paris Hilton. Como só tinha uns 10 minutos, a socialite gravou mais uma hora de filme com o então namorado e lançou-o como filme pornográfico caseiro, facturando duplamente: com a publicidade e com os direitos de licenciamento. Se não os podes vencer, junta-te a eles, já diz o adágio. A partir daí, foram várias as celebridades que foram deixando “escapar” sextapes, em busca de publicidade fácil. Se as primeiras ainda funcionaram (olá Kim Kardashian), a partir daí a coisa foi tornando-se cada vez mais irrelevante. E as últimas já nem tentaram disfarçar que, de caseiro, aquilo não tinha nada. Hão de ver a do Screech, do Já Tocou, em com luz artificial(!), ma actriz porno(!!) e até um pénis falso(!!!).

O Bosque de Blair Witch está para o found footage assim como o Screech está para as sextapes. Tudo é falso e soa a encenado. O que, aliado ao facto de mais uma sequela de O Projecto Blair Witch ser totalmente desnecessária, faz com que se torne quase insuportável. O Bosque de Blair Witch é demasiado filmado, com demasiadas câmaras, para permitir que todos os diálogos tenham campo e contra-campo e para que não se perca nada das conversas. Isso permite que haja uma espécie de atracção romântica entre James e Callie Hernandez ou que haja uma contenda racista entre Brandon Scott (que personagem irritante!) e Wes Robinson.

Como se isso não bastasse, O Bosque de Blair Witch não tem nada de sugestivo, já que não para de mostrar criaturas (por muito rápido que sejam, a sugestão era sempre o mais assustador em O Projecto Blair Witch) e ainda vai buscar monstros que entram no corpo de Corbin Reid. O realizador Adam Wingard, um dos responsáveis pela banalização do found footage no início deste século graças a V/H/S, provavelmente percebeu que o seu filme não se aproximava nem um bocadinho do tomo original e então vá de percorrer a memory lane e jogar com a nostalgia do espectador, recriando cenas do primeiro, reutilizando alguns dos símbolos e até indo buscar excertos do found footage original. Que perda de tempo esta Hamburga de Choco.

Título: Blair Witch
Realizador: Adam Wingard
Ano: 2016

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