| CRÍTICAS | Capone

Com um largo capital histórico e simbólico, a figura de Al Capone tem sido várias vezes namorada pelo cinema de Hollywood. Ainda para mais num país jovem, com uma História recente e fundado por criminosos, Al Capone assume-se como um anti-herói romântico, que tem sido retratado de várias formas. No entanto, nunca o tínhamos visto como em Capone.

E não, não me estou a referir ao facto de ser interpretado pela primeira vez por um inglês (pelo menos no grande ecrã, porque o Boardwalk Empire não conta). Capone é a história do último ano de vida de Alphonse Gabriel Capone, quando já estava diminuído mental e fisicamente, e a polícia dos Estados Unidos mandou-o para casa, mas sem nunca o deixar de vigiar (até porque ainda havia os rumores de uma pequena fortuna escondida algures).

Capone é assim a história de um homem em falência, sozinho numa mansão, que faz lembrar Last Days – Últimos Dias, the Gus Van Sant. É, portanto, um filme de fantasmas – os fantasmas de uma infância traumática, os fantasmas do ofício de gangster e os fantasmas da paranóia de estar a ser constantemente vigiado, que vêm todos ao mesmo tempo. O problema é que, quando chegam, os fantasmas não encontram ninguém para assombrar e ficam para ali sozinhos, a encolher os ombros e a vaguear enquanto batem nas paredes.

O Al Capone de Tom Hardy nunca chega a ser uma personagem, mas sim uma ideia de personagem. E chega a ser confrangedora, um espectáculo grotesco, de um homem a fazer xixi nas calças, cocó na cama, a mascar uma cenoura como se fosse um charuto e a cambalear de um lado para o outro de fraldas. Ninguém quer ver estas coisas, muito menos desta forma gratuita.

E como se isto não bastasse, Tom Hardy ainda exagera tudo para lá dos limites do suportável. Como é que Hardy se tornou num dos actores mais requisitados do momento? Desta vez não tem máscara, mas passa mais um filme inteiro sem falar, apenas a grunhir, num overacting absurdo, que faz lembrar o pior de Marlon Brando, quando este se transformava naqueles monstros inexplicáveis e teimava em actuar com um bale de gelo na tabela por motivos que apenas ele entendia.

Estão a ver aquele sentimento de vergonha alheia que por vezes sentimos quando vemos alguém num momento de constrangimento voluntário sem se aperceber do que está a acontecer? É o que acontece com Capone. Por vezes, até temos que pousar o Happy Meal para esfregar os olhos e certificar-nos que não estamos a sonhar.

Título: Capone
Realizador: Josh Trank
Ano: 2020

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