| CRÍTICAS | Quarto 212

Em Paris já tem 13 anos, mas mesmo assim, sempre que Cristophe Honoré lança um novo filme, lá vamos novos relembrar esse título, na esperança que o realizador francês cumpra finalmente aquilo que muito prometeu em tempos. Não é que costume desiludir. Mas depois daquela trilogia inicial, com Minha Mãe, Em Paris e As Canções de Amor, Honoré nunca mais voltou a brilhar ao mesmo nível.

Quarto 212 é um filme interessante, que aborda o ponto de ruptura de um casal Chiara Mastroianni e Benjamin Biolay) numa determinada noite, em que ele descobre que ela o traiu. Ela garante que o arrufo com um dos seus alunos não significa nada e que é natural para manter uma relação tão longa; ele sente-se traído e não sabe se consegue manter a confiança nela. Para espairecerem, evocam uma noite de reflexão. Enquanto ele se fecha no quarto, ela sai de fininho e vai-se registar no hotel do outro lado da rua, no quarto 212, com vista para o seu próprio apartamento.

Tudo isto não é por acaso, até porque a mise en scene tem sempre uma palavra a dizer em Quarto 212. Todo o filme se centra entre aquele quarto de hotel e o apartamento em frente, com a rua pelo meio (com uma sala de cinema, pertinentemente), mas numa lógica de teatro, em que a câmara plana sobre as paredes, as portas abrem para ambos os lados e tudo tem duas partes: a da frente e a de trás.

Entretanto, Chiara Mastroianni (que este é um filme claramente feminino e, portanto, é ela a protagonista) é visitada pelo fantasma do passado, seja na forma do seu marido enquanto jovem (Vincent Lacoste), da sua antiga professora de piano (Camille Cottin), da sua mãe e avó ou mesmo de toda a sua colecção de amantes. É como o conto de Dickens (até neva lá fora, sempre mais em tons de fábula do que de melodrama), mas sendo Chiara Mastroianni a protagonista, é uma decisão estranha que a professora de piano do marido acabe por se tornar numa personagem tão forte.

Honoré abraça com força o onírico, que se mistura com a realidade, numa abordagem livre dos códigos do melodrama, ao mesmo tempo que continua a dar preferência a todo um cinema popular (desde a influência dos musicais de Demy à banda-sonora de Aznavour ou Barry Manilow, que têm momentos fundamentais na história) em detrimento dos grandes nomes da nouvelle vague, da qual é um digno sucessor.

Quarto 212 pode não cumprir todo o potencial que tinha (ao contrário de Chiara Mastroianni, em modo Isabelle Huppert, que é o grande destaque do filme) e, como tal, ainda não é o grande sucesso de Em Paris. Mas não deixa de ser um competente McBacon, para corações sonhadores e doridos, que gostam de todo drama agridoce de uma boa história de amor.

Título: Chambre 212
Realizador: Cristophe Honoré
Ano: 2019

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