| CRÍTICAS | Missão Greyhound

Já toda a gente sabe que não se deve viajar com o Tom Hanks. Seja de barco, de nave espacial ou de avião, a probabilidade de que a viagem vai acabar mal é grande, Hollywood já o provou. E, mesmo assim, lá o mandaram escoltar uma caravana de navios com mantimentos dos Estados Unidos para Inglaterra, durante a Segunda Guerra Mundial.

Durante a segunda Grande Guerra foi crucial o abastecimento de mantimentos dos Aliados por parte dos Estados Unidos, que enviava regularmente mantimentos por mar, pelo Atlântico fora. Durante o momento em que os navios ficavam em terra de ninguém e, como tal, sem protecção aérea, tornavam-se carne para canhão para os submarinos alemães. Era o período mais difícil da travessia do oceano, uma janela de temporal de cerca de 48 horas, em que os navios vogavam por conta própria. É nessa Batalha do Atlântico que se situa Missão Greyhound, com um Tom Hanks na sua primeira missão militar.

Missão Greyhound começa já a bordo do navio Greyhound e, salvo um par de breves flashbacks, nunca mais vai sair de lá. Tom Hanks, na pele do íntegro e temente a deus capitão Krause, vai ser o rosto daquela missão, personificando ao mesmo tempo tudo o que de mais nobre tem a guerra (o que há de nobre na guerra?): a defesa dos direitos humanos, a ajuda aos mais necessitados, a honra e o patriotismo. No fundo, Missão Greyhound é um daqueles filmes que a direita tanto gostava na década de 80, mas sem o fogo-de-artíficio desses action movies. É mais contido e low profile, o que não significa que não haja bodycount e cenas de acção mais espectaculares.

A diferença é que Missão Greyhound é uma missão náutica e, como tal, vai haver muito jargão naval e muita estratégia que não vamos perceber na totalidade. No entanto, Aaron Schneider consegue manter a tensão, num registo pouco habitual dentro dos filmes de guerra de hoje em dia. Há barcos a afundar, explosões, morteiros e tiros de artilharia, mas nunca há câmaras a tremer, edição epiléptica e outra masturbação digital. Tudo é feito num registo muito sóbrio e com uma edição de som importada do cinema de terror e não do cinema de guerra, o que lhe dá uma atmosfera mais de opressão do que de perigo.

Por isso, Missão Greyhound é um filme curtinho, mas intenso, que consegue cumprir com distinção o caderno de encargos a que se propôs e o qual não era fácil: um filme de guerra com barcos, que prefere dar prioridade ao realismo do que ao espectáculo. E, no final, Tom Hanks lá cumpre a sua missão com dignidade, patriotismo e muito amor a Deus. Pode não ser o filme que queríamos, mas é o que temos. E é um McBacon certinho, que, apesar da pateada patriota, ao menos não desfralda bandeiras em nacionalismos pobrezinhos.

Título: Greyhound
Realizador: Aaron Schneider
Ano: 2020

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