| CRÍTICAS | Double Dragon

Double Dragon foi a minha primeira obsessão nos jogos de computador, ainda no velhinho Spectrum. Por várias razões: era um beat ‘em up com gráficos acima da média, dava para dois jogadores em simultâneo e tinha uma particularidade tão incrível, quanto pouco usefriendly. Sempre que se terminava um nível, tínhamos que carregar o próximo na cassete, esperando mais uma eternidade com aquele som irritante.

Em 1994, Double Dragon chegava ao grande ecrã, na primeira vaga de adaptações de jogos de computador ao cinema. Como se sabe, a coisa não foi famosa. Os efeitos-especiais não davam para muito, os produtores nunca acertaram no tom certo dos filmes e, sejamos sinceros, que os jogos dessa altura não tinham propriamente uma plotline que justificasse um filme. Mesmo assim, Double Dragon não é o pior dessas adaptações. Esse, como se sabe, é o Super Mário. Não só é pior adaptação de sempre de um jogo de computador, como é o pior de tudo de sempre.

Mas já que falámos de plotline, deixem-me lá contar-vos como era a de Double Dragon. Podíamos escolher um de dois irmãos, Billy ou Jimmy Lee, para ir resgatar a bela Marian, raptada por um gangue de malfeitores numa versão pós-apocalíptica de Nova Iorque. Ao longo das ruas íamos despachando mauzões ao soco e pontapé, até ao boss final, que tinha uma metralhadora. Mas o melhor vinha depois. Assim que derrotávamos o último inimigo, tínhamos que lutar contra o nosso irmão(!). O vencedor levava para casa Marian nos braços.

Double Dragon mantém o grosso desse argumento, incluindo a disputa dos manos Lee (um jovem Mark Dacascos e Scott Wolf) pelo amor da bela Marian (Alyssa Milano). Obviamente que no final não se terão que degradar no final até à morte, mas há sempre uma tensão estranha no ar quando os três estão juntos no ecrã. Involuntariamente, claro.

Estamos então num futuro pós-apocalíptico, depois duns tremores d terra catastróficos que semearam o caos nos Estados Unidos. Durante o dia, a coisa corre mais ou menos bem, mas à noite, após o recolher obrigatório, as gangues saem dos seus esconderijos e dominam as ruas. Até que o mauzão Koga Shuko (Robert Patrick em modo de fim-de-semana) engendra um plano para dominar o mundo, recorrendo ao segredo do Dragão Duplo e a um medalhão secreto, que os irmãos Lee têm na sua guarda sem saberem.

Apesar do tom muito cheesy e meio infantilizado (muitas caretas, os capangas de Robert Patrick (entre eles o mítico Al Leong) chamados Huey e Lewis(!), banda-sonora manhosa e um mutante num fato de borracha algures entre a Troma e os Power Rangers), Double Dragon acaba por montar uma inesperada distopia bem interessante. Apesar das roupas e dos penteados ridículos das gangues que dominam a noite, todos nós já vimos Os Selvagens da Noite para perceber que era assim que os anos 80 imaginaram que ia ser o fim do mundo.

Todo o resto depois é encaixar estas peças e encher os espaços em branco com coreografias kung fu em câmara lenta (Mark Dacascos é o único com skills no meio daquela gente toda), piadas sem graça, hip-hop dos primórdios e CGI datado. Ah, e já falei das caretas? Sim, porque todos os actores fazem uma careta sempre que termina uma cena, qual Malucos do Riso. Double Dragon é um Happy Meal melhor que o Super Mário (não era difícil), mas inferior a Street Fighter – A Batalha Final. Só ainda não decidi quem ganha no despique com Combate Mortal.

Título: Double Dragon
Realizador: James Yukich
Ano: 1994

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