| CRÍTICAS | Project Power

Com os cinemas, a televisão e o streaming completamente atolados com os universos cinematográficos da Marvel e da DC, o que é que os executivos decidem fazer? Mais filmes de heróis! No entanto, os super-heróis de Project Power são muito diferentes dos que estamos habituados, já que estes são homens comuns que ganham poderes por apenas cinco minutos, quando tomam um comprimido.

É esta a nova proposta da Netflix para criar o seu próprio universo cinematográfico (mais um!), que é lançado por uma dupla improvável. Henry Joost e Ariel Schulman, além de um par de filmes de terror descartáveis, são os realizadores daquele documentário que continua a espoletar discussões intermináveis sobre se é falso ou real – Catfish.

Andam então uns comprimidos nas ruas de Nova Orleães, que dão poderes de um animal (incluindo o camarão(!)) por tempo limitado. Até o tomar a primeira vez, o utilizador não sabe qual será o seu poder que o comprimido irá espoletar no seu corpo, o que pode incluir… a própria morte. Por isso, o que anda nas ruas não é um comprimido que nos transforma em heróis, mas sim uma nova droga, lançada por uma máfia qualquer, que quer experimentar o seu produto nas pessoas antes de o comercializar entre os grandes magnatas do crime do mundo, quais cobaias humanas. No fundo, o mesmo que os illuminati estão a fazer com o novo coronavirus [/fim da teoria da conspiração].

Project Power vai então seguir dois protagonistas bem diferentes, mas com o mesmo objectivo, que se irão encontrar por causa de um terceiro elemento em comum. O primeiro é Joseph Gordon-Levitt, um polícia da terra (que nem sequer despe a camisola dos Saints, tal é o seu amor por Nova Orleães), que não tem problemas em recorrer a métodos pouco ortodoxos se isso o permitir limpar as ruas; o segundo é Jamie Foxx, um ex-marine que busca a filha, raptada pelo laboratório que criou a droga; e o elemento em comum é Dominique Fishback, uma adolescente do bairro, que sobrevive nas ruas como pode, mas sempre íntegra, cujo único “poder” é rappar e que espelha em Gordon-Levitt e Foxx a figura masculina do pai ausente da sua vida.

Se Project Power fosse feito por Steven Spielberg ele transformaria o chumbo em outro, com toda esta metáfora familiar, transformando o filme de super-heróis numa mensagem moral e motivadora, como só ele sabe fazer, sobre o auto-determinismo e o poder da motivação que todos temos em nós (e que os life coaches exultam). Mas como Project Power é realizado por Joost e Schulman fica-se apenas pela intenção. Da mesma forma que começam por pretender fazer um filme de heróis a partir do cinema de género – o policial e o neo-nor -, que rapidamente descartam para canto.

São 30 minutos prometedores que depois são nivelados por baixo, sem qualquer exigência, num anonimato com muito pouco para acrescentar. Há uma sequência de acção, logo de início, a lembrar a perseguição a pé de Will Smith a um extraterrestre em Homens de Negro, mas que é muito pouco para um filme de acção de grande orçamento. E depois de A Velha Guarda, a anterior grande produção da Netflix, ter tido o pior vilão da década, Project Power inova e… nem sequer tem vilão(!). É tudo uma espécie de anti-climax. Nem sei porque raio escolhi um Cheeseburger para jantar.

Título: Project Power
Realizador: Henry Joost & Ariel Schulman
Ano: 2020

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *