| CRÍTICAS | O Espião Sou Eu

Todos nós continuamos a aguardar um comeback em condições de Eddie Murphy. No entanto, todos nós já caímos uma vez ou outra no mesmo erro. Quando as saudades apertam mais, não resistimos à tentação e lá vamos espreitar um dos seus últimos filmes que ainda não tenhamos visto. Obviamente que isso é um grande erro. Afinal de contas, é também a mesma razão pela qual ele deixou de fazer filmes.

Desta vez calhou-me O Espião Sou Eu, adaptação de 2002 de uma série de espiões dos anos 60. No papel, esta actualização até tinha potencial para correr bem. Afinal de contas, foi no buddy movie que Eddie Murphy se fez (olá O Caça-Polícias, olá 48 Horas), Owen Wilson tinha experiência no género (alguém mencionou Shanghai Noon?) e até podia ser giro ver Murphy refazer a série que deu projecção a Bill Cosby, uma das suas principais inspirações no standup. Contudo, O Espião Sou Eu é uma aposta tímida do estúdio, com um orçamento exíguo, um argumento limitado aos mínimos e uma realizadora com pouca experiência.

O resultado é, portanto, um buddy movie que fica ali na ténue linha entre o filme de domingo à tarde e o straight to video. De um lado temos Owen Wilson, um agente especial de uma agência governamental secreta meio trapalhão, que tem a missão de ir recuperar a Budapeste um avião protótipo roubado por Malcolm McDowell; do outro temos Eddie Murphy, a insolente estrela do boxe mundial, com 57 vitórias e zero derrotas no palmares, que vai a Budapeste defender o título frente ao campeão europeu. Os dois vão unir esforços, já que o segundo é o disfarce perfeito para o primeiro, se bem que os seus feitios antagónicos vão faze-los chocar constantemente.

A fórmula é mais do que batida e, sem nada de novo a acrescentar, torna-se difícil a Betty Thomas dar ao filme algo de novo, que mantenha a nossa atenção. Além disso, o argumento pobrezinho, que reduz todo aquele mundo de espionagem a uma caricatura cartunesca, torna igualmente difícil manter por muito tempo a suspensão da descrença. O único factor minimamente interessante seria, por isso, ver Eddie Murphy no seu habitat natural, mas apesar da química com Owen Wilson até ser positiva, em 2002 o actor não estava propriamente na sua melhor forma. Longe vão os tempos de O Caça-Polícias, em que não era preciso argumento para Murphy brilhar e se tornar na estrela mais cintilante do mundo da comédia de então. Por isso, O Espião Sou Eu é apenas uma imagem embaciada de um Eddie Murphy, mais chato do que divertido. E é a este Eddie Murphy que os seus novos sucessores (tipo o Kevin Hart) vêm beber. Parem, por favor.

Ainda anda por lá Malcolm McDowell, o vilão de serviço, mas a sua presença é tão residual que quase nos esquecemos que é mesmo ele que ali está. Há ainda Famke Janssen, ela que já foi uma Bond girl num filme de espionagem a sério, mas que também não tem muito a acrescentar a O Espião Sou Eu. No final, o Happy Meal traz apenas um brinde de desilusão e desesperança. Se, por um lado, isto faz-nos desacreditar num comeback como deve ser de Eddie Murphy, por outro lado, se ele acontecer, vai ser ainda mais espectacular.

Título: I Spy
Realizador: Betty Thomas
Ano: 2002

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