| CRÍTICAS | Pelican Blood

Não há nada melhor no mundo do que as crianças. Pelo menos, até elas terem o demo dentro delas e quererem esfolar-nos vivos. Então aí não há nada mais assustador do que uma criança. Uma criança com sede de sangue e demoníaca é tão perturbador que o cinema de terror até tem um subgénero específico para isso.

Pelican Blood é o mais recente filme que navega por esse subgénero, que vai de The Bad Seed a O Génio do Mal. Wiebke (Nina Hoss) é uma criadora de cavalos, que decide adoptar uma segunda criança. Para isso, vai à Bulgária buscar uma, já que na Alemanha as mulheres solteiras não podem adoptar. Só que a Bulgária é um grande erro, ou não estivéssemos a falar da terra de Baba Vanga (quem?). Raya (Katerina Kipovska) pode parecer amorosa ao início, mas rapidamente se torna numa peste.

Pelican Blood é uma metáfora ao papel da mãe e de como a maternidade é romantizada na nossa sociedade. Afinal de contas, já dizia o grande Nel Monteiro que é duro ser mãe. Wiebke vai sentir toda a pressão em ser uma boa mãe e não vai querer desistir daquela filha difícil. Mesmo que ela diga que vê entidades no tecto que a mandam fazer coisas más, tenha uma tendência para morder e um ligeiro apetite pela destruição. Afinal de contas, Raya sofreu um grande trama na infância.

Pelican Blood começa por ser um thriller psicológico, que faz o percurso entre ciência e magia negra de uma forma bem consistente. Wiebke começa por ir ao pediatra e depois ao psicólogo, tentando a terapia para “arranjar” a filha. No entanto, è medida que o desespero vai aumentando e a sua vida pessoal começa a ser cada vez mais prejudicada – a relação com a outra filha, que se sente rejeitada; o novo namorado, que começa a ficar cansado de levar com os pés; ou a vida profissional, com cada vez mais tempo para treinar os cavalos da polícia (é irónico que uma criadora de cavalos não consiga educar a sua filha, não é?) -, Wiebke vai começar a dar ouvidos a outras soluções. Incluindo… um exorcismo.

A realizadora Katrin Gebbe sabe o que pretende, mas nem sempre as imagens acompanham o seu raciocínio. Por vezes, perde o contacto com as suas personagens, que caem num limbo errático; outras vezes, demora-se mais do que devia nas birras de Raya, o que faz com que seja mais vezes irritante do que perturbadora. Mas a ideia de transformar um Temos de Falar Sobre Kevin num Hereditário tem graça e, mesmo que o McChicken não seja de todo plenamente conseguido, a tentativa é mais do que digna.

Título: Pelikanblut
Realizador: Katrin Gebbe
Ano: 2019

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