| CRÍTICAS | Sputnik

Quando se fala em ficção-científica russa continua-se a falar praticamente em exclusivo de Tarkovski, graças a Solaris e a Stalker. Agora, meio século depois, o debutantes Egor Abramenko está aí para reclamar esse (pesado) legado com Sputnik.

Sputnik passa-se durante o período soviético e a corrida ao espaço. Dois astronautas russos, ao regressarem à Terra, trazem consigo um terceiro passageiro indesejado, que (sobre)vive no interior de um deles. Colocado em quarentena numa base militar secreta, é chamada à recepção a médica Tatyana Klimova (Oksana Akinshina), conhecida pelos seus métodos pouco ortodoxos e comportamento muito pouco… soviético, para tentar perceber como separar humano do parasita. Para seres de outro mundo nada como abordagens pouco convencionais.

É impossível não comparar Sputnik a Alien – O Oitavo Passageiro, se bem que, exceptuando o prólogo, todo o filme se passa na Terra. No entanto, a criatura de Sputnik nada tem de HR Giger, já que está muito mais próxima de um Carpenter, em Veio do Outro Mundo, e do body horror de Cronenberg.

Mas Egor Abramenko não se fica pelo creature movie e aproveita os seus personagens para construir um triângulo dramático, não se limitando aos arquétipos. Naquele ambiente duplamente hermético (duplamente porque não basta estarem numa base militar secreta isolada no meio do nada, como são altamente vigiados pelo big brother comunista), Sputnik pode ainda funcionar como uma metáfora à Rússia de hoje, de Vladimir Putin.

A doutora Tatyana Klimova vai unir forçar ao astronauta Konstantin (Pyotr Fyodorov), para tentarem escapar e sabotar os planos do Coronel Semiradov (Fedor Bondarchuk). Só é pena o realizador confiar demasiado num argumento tão esquemático, porque o seu formalismo gélido, o orçamento considerável e a fotografia cuidada fazem de Sputnik um McBacon que é um regalo aos sentidos.

Título: Sputnik
Realizador: Egor Abramenko
Ano: 2020

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