| CRÍTICAS | Sol Vermelho

Em 1951, Às Portas do Inferno ganhavam um Leão de Ouro e um Oscar e o Ocidente descobria o cinema japonês e Akira Kurosawa. Os americanos faziam de Os Sete Samurais matéria para o western clássico, a quintessência da cultura norte-americana, enquanto que os europeus aproveitavam Yojimbo – O Invencível para os seus spaghettis. Mas no maior plot twist da história da sétima arte, Kurosawa confessava-se inspirado por John Wayne e pelo cinema de Hollywood. Era o cinema a circular sobre si próprio e em movimento autofágico, tendência tão actual hoje como em 1951.

Vinte anos depois o ocidente e o oriente encontravam-se finalmente. Sol Vermelho era o filme de cáubois com samurais, décadas antes de Owen Wilson e Jackie Chan, em Shanghai Noon. Mas, mais uma vez, a ironia estava presente. Sol Vermelho foi uma co-produção europeia, com um elenco multicultural, com estrelas norte-americanas (Charles Bronson), francesas (Alain Delon e Capucine), suíças (Ursula Andress) e japonesas (Toshirô Mifune), patrocinadas por um realizador inglês (Terence Young).

Charles Bronson e Alain Delon são então os cabecilhas de uma gangue de bandidos, que assaltam o comboio onde se desloca o embaixador do Japão nos Estados Unidos. Quando o segundo trai o primeiro, Bronson vai procurar vingança e junta forças ao samurai Toshirô Mifune para a) reaver o dinheiro roubado e b) recuperarem a espada de ouro que Delon roubou ao embaixador.

Sol Vermelho é assim um buddy movie, em que o ocidente encontra o oriente num choque de culturas com todos os condimentos que isso comporta. Bronson é o sacana insolente do costume, que lhe granjeou fama, e Mifune é o típico samurai cheio de códigos de honra e integridade. Além disso, há ainda a parte meta-referencial, por debaixo dessa camada. Ambos foram estrelas em Os Sete Samurais e em Os Sete Magníficos, encontrando-se agora para o seu próprio filme.

Depois de chocarem no início, os dois vão-se tornar amigos e unir forças para derrotar Delon. Pelo meio entra ainda na equação a bela Ursula Andress, que não se coíbe a mostrar mais pele do que estamos habituados no western norte-americano. Aliás, Terence Young filma a violência de Sol Vermelho como os europeus o fizeram no western spaghetti (e que, por sua vez, já era copiado ao Kurosawa e aos seus filmes de samurais): mais gráfica e mais espampanante. Só é pena é ter ido encostar-se a uma banda-sonora de Maurice Jarre que é uma versão domesticada do Ecstasy of Gold, do Ennio Morricone.

John Ford considerava Sol Vermelho como um dos três melhores westerns de sempre e tinha razão. Além de todas as curiosidades extra-filme, é uma cauboiada inteligente, com uma realização discreta, mas eficiente, que não se limita aos arquétipos das suas personagens. Nunca se torna aborrecido e saca dum McBacon com facilidade, provando por a mais b que, afinal, o velho oeste e o Japão feudal eram os dois lados da mesma moeda.

Título: Red Sun
Realizador: Terence Young
Ano: 1971

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *