| CRÍTICAS | A Lenda da Estátua Nua

Hidra é um daqueles paraísos na Terra dos quais já existem pouco. Uma pequena ilha grega no mar Egeu, comais gatos que habitantes e onde em vez de carro há burros. Hidra foi, durante os anos 60, uma espécie de retiro privilegiado de artistas e boémios, sendo Leonard Cohen o seu habitante mais ilustre. Hoje em dia, a sua antiga casa é visitada por vários fãs e até há um banco(!) comemorativo. Além do canadiano, há ainda um moinho na ilha que se chama Sophia Loren, que também teceu juras de amor à ilha.

Esse moinho tem o nome da diva italiana porque foi aí que era a sua casa em A Lenda da Estátua Nua, o filme filmado na ilha em 1957 e que marcou a estreia de Sophia Loren em Hollywood. Era para ser um filme sobre a ilha, capitalizando as suas paisagens pitorescas (e o passado histórico da Grécia em geral), mas acabou por ser tomado de assalto por aquela musa italiana, que invadia os ecrãs norte-americanos para o marcar para sempre, em fato de banho ou de roupa molhada colada ao corpo. Excelente estreia fetichista para Loren.

Sophia Loren é então uma moça simples de Hidra, onde vive com um preguiçoso namorado (Jorge Mistral) como pescadores de esponjas. Num dia, a mergulhar na costa da ilha, encontra por acaso uma estátua perdida da Antiguidade helénica, de um menino a cavalgar um golfinho. No entanto, surge uma dúvida existencial: deverá Loren entregar a estátua a um arqueólogo norte-americano (Alan Ladd), especialista em resgatar artefactos e entrega-los aos seus países de origem, e fazer o que é mais correcto; ou deverá vende-la a um ricaço coleccionador de arte (Clifton Webb) e recolher o seu bilhete para fora daquela vida precária?

A Lenda da Estátua Nua deveria ser então um filme em que o íntegro Alan Ladd luta com o pouco escrupuloso Clifton Webb por uma antiga e valiosa estátua grega, mas obviamente que acaba por se tornar num drama de cordel em que ambos estão, na verdade, a lutar pelo coração e as boas graças de Sophia Loren. A italiana não podia ser um maior cliché da bomba latina: explosiva, sem papas na língua e com o coração na garganta. Ou seja, muita gritaria, que intervala com os momentos de damsel in distress.

Não há propriamente magnetismo ou química screwball entre Loren e os seus pretendentes masculinos, o que faz de A Lenda da Estátua Nua um filme sobre a italiana e sobre Hidra. A primeira não deixa os seus créditos por mãos alheias. Aliás, basta ver como a sua carreira em Hollywood descolou a partir daí. Loren até faz a sua própria cantoria quando interpreta (e dançará também) um clássico em grego(!). Quanto à segunda, acabou por ficar imortalizada no grande ecrã, continuando a despertar paixões a todos os viajantes do mundo. Este Double Cheeseburger vem queijo feta em vez do gouda, ok?

Título: Boy on a Dolphin
Realizador: Jean Negulesco
Ano: 1957

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