| CRÍTICAS | The Glorias

Houve alguém que escreveu – e bem, ou eu não o estaria a repetir – que a Gloria Steinem é tão grandiosa que foram precisas quatro actrizes para a encarnar no cinema. E duas delas com Oscares! Uma para cada fase da vida: Ryan Kiera Armstrong para a infância, Lulu Wilson para a pré-adolescência, Alicia Vikander para a adolescência e Julianne Moore para a vida adulta.

Para quem não sabe quem é Gloria Steinem, pode-se dizer de forma muito resumidamente que é a mais importante activista feminista do mundo ocidental. Para uma explicação mais em detalhe, The Glorias é mais indicado que o artigo da Wikipedia. Mas, tal como esse (e como a maioria dos biopics), este também é uma espécie de best of da sua vida e obra, desde os anos de tenra idade até à actualidade. E quando digo actualidade é mesmo actualidade, já que a própria encerra o filme com imagens reais de um dos seus discursos recentes.

Mas apesar de ser um biopic convencional, no que diz respeito aos méritos do retratado, na forma The Glorias tenta inovar e não ser apenas mais um. A realizador Julie Taymor, que já tinha assinado o biopic de outro ícone do feminismo em Frida, tenta incutir algum onirismo ao filme, pintando coma algum simbolismo determinadas partes da vida de Gloria Steiner. Taymor mete, inclusive, as quatro actrizes que interpretam a activista a dialogar entre si durante uma viagem de autocarro, que serve também para cozer uma narrativa que nem sempre é linear.

Esses momentos mais simbólicos podem envolver animação, reality shows e takes alternativos à mesma cena, como se Julie Taymor ainda estivesse sob a influência de outro dos seus filme, Across the Universe (mas sem música). O problema é que isto parece ser sempre demasiada informação para a realizadora gerir, acabando por descurar umas coisas em relação a outras. A infância de Steiner é apenas uma breve passagem, a sua vida pessoal é apresentada como se nós todos a conhecêssemos e, por isso, não fosse necessário contextualiza-la e, por vezes, fica a sensação de que ficou uma cena ou outra perdida no chão da sala de edição.

Também as cenas mais simbólicas custam, por vezes, a encaixar com a narrativa convencional da biografada, o que obriga a realizadora a ir buscar o pé-de-cabra para encaixar as peças à força. Felizmente para ela, tem em contrapartida um elenco de primeira água, que a ajuda depois a sair por cima disto tudo, com Julianne Moore à cabeça, uma Alicia Vikander bem competente, uma Janelle Monáe que continua a sua senda por papeis engajados e uma Bette Midler num raro papel sério.

The Glorias não é brilhante, mas não pode ser acusado de falta de ambição. Afinal de contas, a vida de Gloria Steiner nação merecia menos que isso. Por isso, o McChicken serve para saudar isso, para celebrar Gloria Steiner e para continuar a mostrar a todos como o feminismo continua a fazer falta no nosso mundo.

Título: The Glorias
Realizador: Julie Taymor
Ano: 2020

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