| CRÍTICAS | Dá Tempo ao Tempo

Tendo em conta que as viagens no tempo não existem nem nunca vão existir (sim, porque se isso acontecesse no futuro, então já alguém teria vindo ao passado dize-lo), qualquer máquina de viagens no tempo é boa. Um Delorean é tão legítimo quanto uma banheira com jacuzzi ou mesmo uma caixa de cartão. Por isso, em Dá Tempo ao Tempo, o facto dos homens da família de Tim (Domhnall Gleeson) conseguirem regressar atrás apenas por se fecharem com os olhos fechados num local escuro é tão credível quanto outra coisa qualquer.

No fundo, as viagens no tempo de Tim são apenas um gimmick para o realizador Richard Curtis reflectir sobre a passagem do tempo, o envelhecimento e as relações pessoais. No fundo, para reflectir sobre a vida. E provar-nos por a mais b que a realização de uma vida feliz não é ruminar ou arrepender-nos pelo que fizemos, mas apreciar a espuma dos dias. Sim, é bom-senso. Mas ao contrário do que o nome indica, este não é tão comum assim e precisamos de ser relembrados disso muito mais vezes do que era desejável.

Tim é então um jovem com uma vida social complicada, que no dia que faz 21 anos descobre que os homens da sua família conseguem regressar atrás o tempo. Para isso, basta irem para um local escuro, cerrar os punhos e pensar com muita força. A partir daí, Tim vai utilizar esse poder para: a) arranjar uma namorada; b) ajudar os seus amigos; c) auxiliar a sua família; e d) arranjar uma namorada. E rapidamente vai entrar na equação a mulher dos seus sonhos: Margot Robbie. E Rachel McAdams. E depois Margot Robbie outra vez.

Um dos grandes trunfos do cinema de Richard Curtis, autor daquele filme de culto que é Love Actually – O Amor Acontece, é a forma como cria personagens tão carismáticas, quanto divertidas. Em Dá Tempo ao Tempo todas elas podiam ser o protagonista do filme. Seja o cromo adorável de Domhnall Gleeson, a apenas muito adorável Rachel McAdams, o pateta feliz de Joshua McGuire ou o mau feitio amargo de Tom Hollander. E, claro, há Bill Nighy, capaz de roubar qualquer filme em que apareça.

Dá Tempo ao Tempo é uma comédia romântica no molde, mas no fundo é uma viagem completa pela paleta de emoções essenciais do ser humano. Durante o filme vamos rir, emocionar-nos, identificarmo-nos com as dificuldades dos protagonistas, zangar-nos um pouco e, no final, soltar duas lágrimas. E Richard Curtis faz tudo isto quase sem esforço, apenas com um argumento que nos conduz pela mão por esta estrada fora, sem forçar o tearjerker. Se bem que, no final, faz-nos nunca mais ouvir o Into my arms, do Nick Cave, da mesma forma. Tal como Love Actually – O Amor Acontece, Dá Tempo ao Tempo é um filme discreto, que irá angariar legiões de fãs com o passar dos anos. A maior parte das pessoas que não conhece Richard Curtis vai pensar que o Le Big Mac é exagerado, mas isso é apenas porque manifestamente não conhecem o trabalho de Curtis.

Título: About Time
Realizador: Richard Curtis
Ano: 2013

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