| CRÍTICAS | Hagazussa

A Bruxa, de Robert Eggers, veio-nos mostrar uma nova forma de fazer terror. Recuando aos pioneiros do Novo Mundo e mergulhando nas raízes pagãs da crença ocidental, Eggers fazia um dos filmes mais assustadores da década, apenas com luz natural e a perversão do Homem e da Natureza.

Rapidamente A Bruxa ganhou seguidores e surgiram uns filhos bastardos. É o caso de Hagazussa, o seu primo alemão que veio actualizar de vez o pagan-horror para o século XXI, deixando definitivamente de ser um exclusivo inglês (alguém mencionou O Sacrifício?). Hagazussa passa-se no século XV, algures na Europa central, é falado num dialecto austro-germânico antigo e é um filme que escava até à raiz da superstição ocidental (mais uma vez, as bruxas), valendo-se de um vestiário completo de cabras, ratazanas, cobras e afins.

Apesar de ser ter sido o filme de final de curso do jovem Lukas Feigelfeld, Hagazussa não dá qualquer mostra de baixo orçamento, graças a uma filmografia impecável. Planos enquadrados como se fossem quadros naturalistas, uma banda-sonora opressiva cheia de drones e uma confiança estilística que quase roça a arrogância, de tão controlada que é.

Alburn (interpretada enquanto criança por Celina Peter e, depois, quando crescer, por Aleksandra Cwem que dará literalmente o corpo ao manifesto) vive então com a sua mãe (Claudia Martini) numa cabana, longe de tudo. Mesmo assim, os aldeões fazem-lhes a vida negra, por as acusarem de bruxaria. Nunca temos muitos pormenores sobre o que levou a isto, porque Hagazussa é tão parco em explicações quanto em diálogos.

Um dia a mãe cai na cama com uma estrada enfermidade, que começa a se alastrar pelo corpo de forma pútrida, até esta se transformar numa bruxa(!) e morrer. O filme salta década e meia e eis Alburn a viver sozinha na mesma cabana, apenas com uma filha bebé. A partir daqui, Lukas Felgelfeld desacelera o filme e deixa-o cozinhar em lume brando, à medida que a paranóia e a superstição vão tomando conta do ecrã.

Se as comparações com A Bruxa são inevitáveis por tudo o que já vimos acima, a com Mandy já não é tão óbvia. Mas Hagazussa é uma trip gótica e metal do mesmo género, em que realidade e ficção (deve-se ler realidade e realidades alternativas) se misturam e não necessariamente coisas diferentes. Hagazussa é um exercício de estio altamente bem conseguido de Lukas Feigelfeld, mas a que depois falta argumento. Talvez o realizador não estivesse a contar que a coisa corresse de forma tão positiva e não se preocupou em ter um conteúdo para preencher a forma. Com um argumento o que seria deste McChicken?

Título: Hagazussa
Realizador: Lukas Feigelfeld
Ano: 2017

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *