| CRÍTICAS | Doze Indomáveis Patifes

Que Teria Acontecido a Baby Jane?, apesar de ter sido um sucesso de bilheteira, acabou por não significar propriamente um reavivar da carreira dos seus envolvidos. Joan Crawford e Bette Davis continuaram a fazer hag horror movies, é certo, e Robert Aldrich nunca deixou de trabalhar (incluindo outro hagexploitation, Com a Maldade na Alma), mas sem o reconhecimento de outrora. E, no entanto, o realizador ainda haveria de assinar o seu maior êxito da carreira, já quando ninguém o apostava – Doze Indomáveis Patifes.

Décadas antes de Esquadrão Suicida, o governo norte-americano tem a mesma ideia para infligir um forte golpe na moral das forças nazis: recrutar doze condenados durões nas prisões do país, treina-los sob a alçada do pouco ortodoxo Major Reisman (Lee Marvin) e envia-los numa missão suicida atrás das linhas do inimigo, para assassinarem o máximo de oficiais alemães que conseguirem num chateau francês onde se costumavam reunir. Assim, Doze Indomáveis Patifes é um filme de homens em missão, sub-género que, já neste século, Quentin Tarantino haveria de finalmente legitimar com Sacanas Sem Lei, mas que, durante a primeira parte, ainda tem que os recrutar e treinar.

O elenco é, assim, vasto e dava para formar uma equipa de futebol e deixar um no banco. E, com tantos nomes fortes, era impossível a coisa correr mal. Contudo, com tanta gente, também era impossível dar tempo de antena a todos. É certo que alguns se sabotaram a si próprios, como Trini López, que abandonou a produção a meio para se dedicar à sua carreira na música (segundo consta, a conselho de Frank Sinatra) e que, assim, só tem tempo para dedilhar um par de versos à guitarra. Dos onze que sobram sobressai assim Charles Bronson, que acaba por assumir naturalmente o papel de líder, bem secundado por Jim Brown (que, ao contrário de López, anunciou a sua reforma dos campos de futebol americano durante as filmagens do filme, até porque se estava a tornar no primeiro afro-americano com um papel principal num filme de guerra) e complementados por John Cassavetes. Donald Sutherland será o outro nome forte do elenco, que, apesar de mais discreto, acaba por ter uma das cenas do filme, em que finfe ser um coronel a passar inspecção a um batalhão e que lhe valeu inclusive o contrato para MASH. Outros tempos… duas décadas depois, fariam-se sete filmes da Academia de Polícia baseados inteiramente em cenas como esta.

A primeira metade do filme é assim um filme de homens em treino, em que Lee Marvin impõe a sua ordem, cheio de testosterona, e Robert Aldrich se diverte em aligeirar o tom do filme, às vezes até recorrendo a algumas ferramentas da comédia screwball. Depois, a segunda metade lança os homens para a sua missão suicida, escancarando as portas ao blockbuster de acção, em que a aposta pelo entretenimento em detrimento de qualquer realismo histórico é total. O bodycount é elevado, a matança é cruel (sim, vai haver nazis queimados vivos, mas também mulheres e crianças) e, inesperadamente, Doze Indomáveis Patifes torna-se num filme imoral (ou amoral?), em que os Aliados, pela primeira vez, também praticam crimes de guerra no grande ecrã. Doze Indomáveis Patifes é tão complexo e controverso (começando logo pela cena inicial, durante uma execução numa prisão norte-americana, que questiona logo a pena de morte), quanto divertido e entretido. Quando já ninguém acreditava, Robert Aldrich ainda conseguiu sacar um McRoyal Deluxe.

Título: The Dirty Dozen
Realizador: Robert Aldrich
Ano: 1967

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