| CRÍTICAS | Gritos

Nos anos 90, a carreira de Wes Craven parecia tão estagnada quanto o slasher movie, género que ajudou a consolidar com o seu Pesadelo em Ele Street. Depois de 74 sequelas de Freddy Krueger, mais outras 81 sequelas do Sexta-Feira 13 e todas as outras centenas de variantes de adolescentes a serem chacinados durante as férias do verão, Craven parecia condenado a definhar. Contudo, o que fez em 1996 foi duplamente surpreendente. Não só se reinventou a si próprio, como reinventou o próprio género do slasher, com um só filme.

Com Gritos nascia mais um das mais bem sucedidos franchises dos slasher movies, um dos seus grandes vilões – alguém mencionou Ghostface? – e uma nova variante do género: o slasher meta-referencial. Em Gritos vai haver um psicopata mascarado, de faca, que vai matar adolescentes com as hormonas aos saltos. Mas estes viram todos os filmes de terror do género, sabem as armadilhas que os esperam e citam directamente coisas como o Regresso do Mal, O Uivo da Fera ou Meia-Noite Fatal. Por isso, não há nada de paranormal com o assassino, que leva na cara como qualquer pessoa durante as perseguições, e tudo pode acontecer, incluindo a estrela do filme, Drew Barrymore, morrer na primeira cena.

Aliás, essa cena inicial de Gritos é uma abertura incrível, com Wes Craven a cozinhar na perfeição todos os ingredientes do género, à medida que o suspense vai crescendo. Barrymore está sozinha em casa e recebe uma chamada de um estranho, que a observa. O certo vai apertando cada vez mais e sentimo-nos numa panela de pressão, com a temperatura a crescer, até a tampa saltar e Barrymore aparecer pendurada numa árvore no quintal, em referência directa a Suspiria. Anos depois, The Ring – O Aviso voltaria a fazer o mesmo, numa espécie de variação da mesma cena.

Depois é a habitual sucessão de sustos e jovens mortos, até à revelação final de quem é o assassino. Pelo meio, Courteney Cox despe a pele de Friends e veste a de bitchy repórter, Neve Campbell ganha o estatuto que nunca viria a confirmar e ficávamos a conhecer Rose McGowan, ainda sem metralhadora na perna. Entretanto, Gritos viria a sofrer de sobrexposição, como as músicas dos Pink Floyd que passam todos os dias na rádio, com mil e uma cópias e a sátira de Scary Movie – Um Susto de Filme (hoje quase que já nem sabemos distinguir se a cena do wassaap é de um ou de outro, qual Efeito Mandela) e, por isso, acabámos por nos esquecer que é um óptimo McRoyal Deluxe.

Título: Scream
Realizador: Wes Craven
Ano: 1996

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