| CRÍTICAS | O Caçador de Sonhos

Em 1917, cinco fotografias de duas primas inglesas rodeadas de fadas entusiasmavam os espiritualistas da época, com Sir Arthur Conan Doyle à cabeça, que garantia a sua autenticidade e as via como prova inequívoca de fenómenos paranormais. As Fadas de Cottingley, como ficaram conhecidas, foram alvo de atenção durante algum tempo, voltariam a ter atenção dos anos 60 quanto alguém foi desenterrar uma das primas para uma entrevista e, em 1997, tiveram mesmo direito a um filme.

O Caçador de Sonhos, apesar de ter sido feito também em 97, não é esse filme (esse chama-se FairyTale: A True Story e tem no elenco Harvey Keitel, como Houdini, e Peter O’Toole, como Conan Doyle), mas utiliza essas fotos como ponto de partida. Charles Castle (Toby Stephens) é um fotógrafo especialista em manipular retratos que, certo dia, após desmascarar o fotoxó artesanal das fotografas de Cottingley numa sessão pública, acaba por receber a visita de uma mulher (Frances Barber) com mais fotos de fadas. No entanto, quando não consegue encontrar qualquer indício de falsificação nesses registos, Castle começa a ficar obcecado.

No entanto, o prólogo de O Caçador de Sonhos não agoira nada de bom para o filme. Numa abertura rápida digna de um teatrinho de escola, com muitas más interpretações, decisões duvidosas e cenas xunga, vemos Charles Castle a perder a mulher num acidente na neve na Suíça e a ter uma passagem rápida pela Primeira Grande Guerra, como fotógrafo. Essa introdução serve para nos explicar que Castle desenvolve uma relação traumática e mal resolvida com a morte, que vai ser espoletada por aquelas fotos de fadas.

Charles Castle viaja então para o campo, onde vai visitar a casa da mulher, apenas para descobrir que, para ver as fadas, é preciso mais um factor na equação: umas misteriosas flores que, quando comidas, despoletam uma reacção psicadélica. De repente, ciência e religião misturam-se e surge a questão do que estará Castle a experienciar: os efeitos alucinogénicos de uma droga ou a aproximação de dimensões com a ajuda extra de um produto natural.

As cenas das trips de Castle são o melhor do filme e lembram Blueberry, o filme em que cáubois se defrontam num duelo em cogumelos. Infelizmente, a linha que separa a seriedade do ridículo é ténue, porque do outro lado está o baixo orçamento, fadas que são jovens nuas ou gordinhos com a pila a abanar e Ben Kingsley num vilão tão cabotino que parece saído directamente de uma novela mexicana. Existe ainda uma espécie de anacronismo na forma como as personagens se comportam ou falam para a época que dá igualmente um ambiente xunga a O Caçador de Sonhos, que é simultaneamente bom e mau.

O Caçador de Sonhos é realizado por Nick Willing, o filho de Paula Rego e de Victor Willing, que, tirando o documentário sobre a mãe, tem construído uma carreira alicerçada no fantástico de baixo orçamento. O Caçador de Sonhos passou pelo Fantasporto na altura da sua estreia e, desde então, tornou-se numa espécie de filme raro. Contudo, o seu McChicken não significa que mereça algum culto. Contudo, para quem estiver curioso, podem sempre encontra-lo na Cave dos Filmes Esquecidos.

Título: Photographing Fairies
Realizador: Nick Willing
Ano: 1997

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