| CRÍTICAS | Tiranossauro

Joseph (Peter Mullan) tem um mau feitio do caraças e dificuldade em controlar a raiva. Ainda o filme vai nos quinze minutos e já ele descarregou a frustração no cão, matando-o ao pontapé, já partiu à pedrada a montra da loja duns paquistaneses porque não gosta propriamente de emigrantes e já deu um enxerto de porrada a uns miúdos num pub por estarem a falar muito alto. Claro que isso também se vira contra si e acaba atacado à porta de casa, por alguém que se quis vingar.

É assim a vida de Joseph, miserável e solitária, que vai enganando entre os copos nos bares locais e as bulhas em que se mete. Aos poucos vamos percebendo que o buraco na sua vida que vai tentando preencher foi deixado pela morte da mulher. Essa, tal como outra informação, vai sendo dada de forma circunstancial, à medida que Tiranossauro avança, de uma forma económica e sem pressas.

Paddy Considine estreou-se atrás das câmaras com um filme que revisita alguns aspectos dos seus melhores trabalhos: uma certa reflexão à volta da ideia de violência e de como esta é criada e perpetuada pela condição social; os subúrbios ingleses, dos working class heroes; e o trauma e a solidão, com uma certa projecção na saúde mental. Tiranossauro é tudo isso, cozinhado em lume brando, num slow burner que vai acumulando tensão, mas que nunca chega a explodir verdadeiramente. O que não significa que não complete o seu arco narrativo até à redenção final.

Joseph há de conhecer, de forma igualmente circunstancial, uma mulher (excelente Olivia Colman, como habitual) que também lida com os seus próprios problemas relacionados com a violência. É que, em casa, tem um marido abusado – Eddie Marsan, um homenzinho odiável, que é um dos grandes vilões de sempre de toda a história da sétima arte. Tenho inclusive a impressão que, se um dia me cruzar com ele na rua, não vou conseguir resistir a curtir-lhe para cima.

É no cruzamento destas duas vidas que Tiranossauro se faz. Duas almas perdidas que ganham conforto nos problemas, nas falhas e nos traumas um do outro, resolvendo os seus problemas à sua forma até encontrarem paz interior. Não é uma redenção moralmente perfeita que ambos vão alcançar no final do filme, até porque são ambos anti-heróis à semelhança das melhores personagens de Paddy Considine, mas é a redenção possível para que possam continuar a viver de forma funcional e apaziguados consigo próprios. E o McBacon é um óptimo ponto de partida para a carreira de realizador desse que, em tempos, já foi chamado de o segredo mais bem guardado da Inglaterra.

Título: Tyrannosaur
Realizador: Paddy Considine
Ano: 2011

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