Um Ajuste de Contas abre com um flashback, em que vemos um jovem Nicolas Cage e o mafioso do seu chefe a matar à paulada com um taco de basebol um outro tipo que tinham amarrado e que lhes deve ter feito alguma. As semelhanças entre esse Cage com 19 anos antes com o Cage da actualidade é assombrosa que nos interrogamos como é que o fizeram. Foi a mesma tecnologia de O Irlandês? Não pode ser, parece demasiado real. Fazemos pause no filme e vamos ver à net. O actor que faz de jovem Nicolas Cage chama-se Bailey Coppola e o nome não engana: é seu sobrinho. E essa trivialidade há de ser o melhor de todo o filme.
Saltamos então para a actualidade, em que Nicolas Cage está a abandonar a prisão, a braços com uma insónia crónica que o há de levar à morte mais dia menos dia. Acabaremos por descobrir que Cage foi condenado a prisão perpétua, depois de ter assumido a culpa do chefe. No entanto, tinham-lhe prometido uma pena de meia dúzia de anos no máximo. Portanto, ele está fulo e vai vingar-se. De preferência com um taco de basebol, porque cá se fazem, cá se pagam.
Preparam-nos para o vengeance movie, mas rapidamente surge em cena o filho adolescente de Cage (Noah Le Gros). E, de repente, temos um filme de vingança ancorado num filme de pai e filho, com o primeiro a tentar compensar o tempo perdido com o segundo. No entanto, tudo isto é suportado por um twist que é um gato escondido com o rabo de fora. E porque já todos vimos O Sexto Sentido (e o Vingança Redentora), nem vale a pena estar a alertar para os spoilers, porque tudo é demasiado evidente: o filho de Cage está morto e é só um fantasma. Por isso é que nunca fala com ninguém e recusa sempre comida. Uau, que subtil.
Então temos assim um filme de vingança, com Nicolas Cage a reencontrar os antigos colegas da gangue e a executa-los a sangue frio; o drama entre pai e filho, em que ambos vão-se registar num hotel de luxo e gastar dinheiro à parva, com a fortuna que Cage recebera para arcar com as culpas do chefe; e as tais insónias crónicas que, de quando em vez, surgem e desaparecem apenas para nos lembrar que elas existem (e justificarem o filho fantasma mais tarde, claro). Como se isso não chegasse, ainda há de entrar em cena uma prostituta (Karolina Wydra), com quem o filho obriga o pai a ter sexo(!) em duas cenas meio awkward e que, claro, se vai apaixonar por Cage. Quem não? Afinal é Nicolas Cage, caramba.
No meio disto tudo, como é que há tempo para o pai passar com o filho? Não há. Mas mesmo assim, ainda há de surgir mais um subplot. Benjamin Bratt é um antigo colega que o vai ajudar a encontrar os seus alvos e que tem um bar, onde Nicolas Cage vai às vezes beber copos (sim, ainda há tempo para beber copos) e fazer um solo ao piano a cantar Judy Garland(!). Claro que sabemos que haverá também um twist a dobrar por aqui, mas, por esta altura, quem é que ainda quer saber?
Um Ajuste de Contas é um puzzle daqueles grandes, de 1000 peças, mas em que elas não encaixam umas nas outras. Por isso, ficamos por ali, a observar a palhaçada das cenas de acção, Nicolas Cage a ter sexo e a curtir de Lamborghini e a ter tempo ainda para a sua habitual explosão cageana. Nicolas Cage continua a fazer filmes a um ritmo brutal, que variam entre um espectro bem alargado, entre foda-se, o que é isto? e foda-se, o que é isto?, sendo que o primeiro foda-se é o Mandy e o segundo foda-se é Left Behind – A Última Profecia. E Um Ajuste de Contas é uma Hamburga de Choco que está bem mais perto deste último. Tudo isto teria sido evitado se tivesse logo olhado para o nome do realizador e percebido o sinal…
Título: A Score to Settle
Realizador: Shawn Ku
Ano: 2019