| CRÍTICAS | A Princesa Prometida

Hello, my name is Inigo Montoya. You killed my father. Prepare to die.
Não existem muitos casos em que uma simples fala é mais conhecida que o próprio filme. A Princesa Prometida é um desses raros casos, que toda a gente conhece mesmo sem nunca ter visto. Nem que seja pelo meme de Inigo Montoya (Mandy Patinkin) e do seu pitch perfeito, uma aula para qualquer empreendedor a tentar vender o seu projecto (saúde o interlocutor, diga o seu nome, explique como se conhecem e exponha os seus objectivos). E Inigo Montoya nem sequer é a personagem principal.

A Princesa Prometida é uma comédia mascarada de épico de fantasia, um género que teve momentos altos nos anos 80, de A Lenda da Floresta a Willow na Terra da Magia. É-o da mesma forma que This is Spinal Tap, esse clássico realizado também por Ron Reiner, era uma comédia mascarada de rockumentário. Ou seja, subvertendo todos os signos e os mecanismos de um género específico em função do humor e não o oposto.

A Princesa Prometida utiliza o mesmo truque de História Interminável, ao ir buscar a literatura como porta de entrada para um mundo de fantasia, piratas, espadachins, gigantes e magia. Aqui, é um avô (Peter Falk) que, estando o neto (Fred Savage) doente de cama, traz um livro que vai ler para o entreter. Ao longo do filme, a história vai ser interrompida meia dúzia de vezes para alguns comentários entre o neto e o avô, que provam a eficácia da história. Inicialmente reticente em trocar a consola por uma história do avô, o miúdo começa a ficar intrigado pelas aventuras de vingança e tortura, até ficar totalmente enlaçado nelas. E mesmo as partes românticas, com beijinhos e abraços, que pede para saltar no início, acaba por querer ouvir no final. Normal, quem é que não quer ouvir umas histórias de beijinhos com uma jovem Robin Wright, hein? *wink wink, piscadela de olho*

A história é a simples fábula de bela jovem (Robin Wright) disputada por um príncipe (Chris Sarandon) que a quer despojar e o seu amor de sempre (Cary Elwes), feito prisioneiro por piratas. Pelo meio há de haver uma complicada intriga com um espadachim espanhol (Inigo Montoya, perdão, Mandy Patinkin), um bom gigante (o wrestler André, the Giant), um albino (Mel Smith), um milagreiro (Billy Crystal cheio de próteses) e R.O.U.S. – Rodents Of Unusual Size(!). Ou seja, a história é pouco importante, até porque parece que vai sendo inventada pelo avô à medida que a vai contando ao neto, mas que interessa isso desde que, no final, a princesa fique com o amor da sua vida, o príncipe seja castigado e Inigo Montoya vingue o seu pai?

A Princesa Prometida utiliza um dos truques mais velhos da comédia e, tal como os Monty Python em A Vida de Brian, funciona na perfeição – o das vozes estúpidas. A mecânica é simples: quebrar a solenidade de qualquer situação ou personagem com um sotaque ou uma voz esganiçada. É assim o albino de Mel Smith, que está só engasgado quando começa a falar em sussurros, ou o clérigo de Peter Cook que não pronuncia os erres. Ron Reiner diverte-se, os actores vê-se que se divertem também e quem sai a ganhar somos nós, que nos divertimos também.

Mesmo sem ser um filme de fantasia, A Princesa Proibida é, provavelmente, o melhor filme de fantasia dos anos 80. Ou, pelo menos, sem ser um filme de fantasia sério. Mas a sua honestidade e o savoir faire de Ron Reiner pela simbologia do género tornam-no tão legítimo e talvez até mais eficaz que a maioria dos exemplares mais sérios, esforçados e dedicados. Como diria o outro, Hello, my name is Inigo Montoya. You killed my father. Prepare to die, mas primeiro comam qualquer coisinha. Um McRoyal Deluxe, talvez.

Título: The Princess Bride
Realizador: Rob Reiner
Ano: 1987

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