| CRÍTICA | Mistério na Vila

Se vamos para Mistério na Vila sem saber o que esperar, o mais certo é andarmos ali durante uns tempos aos papeis. O título e o cartaz remete-nos para um horror film qualquer, mas o início não tem nada de fantástico. Jacob (Nikolaj Lie Kaas) é um jornalista em licença sabática, que recebe a visita da irmã, com uma deficiência severa. Percebemos que Jacob não aceita bem a situação e adivinhamos um trauma qualquer ali recalcado. Afinal, aquilo que esperávamos que fosse um filme de terror é um drama familiar.

Depois, a irmã (Lærke Winther) anuncia surpreendentemente que tem um namorado, Anker (Nicolas Bro), que conheceu online, e rapidamente estão a casar. No dia da boda, gritos irrompem a meio da noite. A surpresa: a irmã suicidou-se na banheira e a família encontra-a nos braços de Anker. Ainda vamos com meia hora de filme e já Mistério na Vila passou por uma montanha-russa de sentimentos, emoções e reviravoltas.

Mas é só então que o filme começa verdadeiramente. De forma algo fortuito, Jacob descobre um recorte de jornal suspeito e decide ir visitar Anker à vila na ilha dinamarquesa para onde este se mudou. Parece tudo paranóia de quem continua a não aceitar o acidente que deixou a irmã aleijada para a vida há anos atrás (o tal trauma recalcado que detectámos logo no início), ou pode ser o seu faro de jornalista a funcionar. E quando Jacob chega à vila e descobre que Anker nao só já está noivo de outra mulher, como esta é também deficiente, surge um padrão que parece que a segunda hipótese é a correcta.

Mistério na Vila é então um thriller psicológico, bem mais do que um whodunnit, que por momentos parece vir a enveredar. E fa-lo com aquela precisão glacial de que a tradição nórdica é exímia. Aliás, não é por acaso que o policial continua a dar cartas na Escandinávia. No entanto, ao contrário da literatura, Mistério na Vila tem pouco desses códigos de género, já que o seu molde é o thriller psicológico.

O realizador Jannik Johansen, apesar de uma realização certinha e tarefeira, consegue manipular o suspense durante grande parte do tempo, mantendo-nos sempre na dúvida se as suspeitas de Jacob são infundadas ou não. Não é propriamente um trabalho de filigrana, mas é eficaz o suficiente para nos manter interessados até ao final e para nos levar a recomendar o McChicken a quem procura um thriller eficiente e sem derivações paranormais (algo que parece cada vez mais obrigatório no género).

Título: Mørke
Realizador: Jannik Johansen
Ano: 2005

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