| CRÍTICAS | Mandingo

Antes de haver Django Libertado ou 12 Anos Escravo, já havia Mandigo, o grande filme sobre a escravatura nos Estados Unidos. Na verdade existem outros títulos sobre o tema na década de 70, a reboque da exploitation que encontrou aqui um sub-género, mas Mandingo é o único que tem um orçamento digno para perdurar no tempo, cortesia de Dino De Laurentis, esse magnata do xunga. Como diria Quentin Tarantino, este é um dos raros exemplos de um exploitation movie com um grande orçamento – com theme song de Muddy Waters e tudo.

Logo de início, Mandingo é absolutamente execrável. Numa fazenda negreira, um comerciante (Paul Benedict) analisa uma fila de escravos para decidir quais comprar: pergunta o preço de uma criança, observa o rabo de outro em busca de hemorróidas e analisa os dentes de um terceiro. A fazenda pertence ao clã Falconhurst, o impiedoso patriarca Warren (James Mason, que disse que aceitou o papel porque precisava de pagar a pensão de alimentos) e o filho Hammond (Perry King), que tem um carinho especial pelos escravos (e por uma escrava em particular). Depois, haverá mais comportamentos reprováveis e nojentos: James Mason irá pisar uma criança negra para que o reumatismo escoe das plantas dos pés para o jovem; haverá um escravo pendurado de cabeça para baixo e espancado com uma chibata por estar a ler; e, na grande cena final [alerta de spoilers], o mandingo do título há de ser fervido vivo.

No entanto, esta é a parte menos gratuita de todo o filme. Estas são deixadas para as lutas de mandingos (o próprio Tarantino, em Django Libertado, não perdeu a oportunidade de fazer uma referência ao filme, quando dizia que os mandingos eram os melhores lutadores), em que o jovem Perry King gosta de participar com o seu novo escravo favorito; e para as cenas de sexo. No entanto, o realizador Richard Fleischer gosta de manter a exclusividade em cenas amorosas erotico-friendly inte-raciais, já que na única cena em que Perry King se deita com a sua nova esposa, Susan George, a cena corta logo para a manhã seguinte, com o marido a acusa-la de já não ser virgem(!).

Apesar de parecer ser um épico familiar sulista, Mandingo é, na realidade, um sexploitation. Há de haver ecos da emancipação dos escravos, mas isso são sempre subplots muito fugidios. Por um lado, há toda a questão da segregação e dos senhores brancos, que utilizam as esposas para ter em casa e as escravas para o sexo. Afinal de contas, não se fode a mulher, já dizia o marialva de O Delfim. Perry King tem a sua escrava de eleição e há de desprezar a sua esposa por ela lhe ter mentido acerca da virgindade. No final, ela há-de se vingar, com o próprio mandingo, num final tão chocante, quanto cruel e sanguinário. Richard Fleischer há de tentar fazer um filme sério daqui, mas com este material não havia volta a dar, mais valia abraçar a exploração gratuita destes temas crus e violentos. E foi o que fez. E nunca um exploitation movie teve direito a um McBacon destes.

Título: Mandingo
Realizador: Richard Fleischer
Ano: 1975

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