| CRÍTICAS | A Valsa Com Bashir

Se há coisa que não se pode apontar a Valsa Com Bashir é falta de originalidade. Depois de Persépolis, essa história iraniana que fez correr muita tinta (e candidato ao Oscar para melhor animação em 2008), esta é a prova definitiva de que os desenhos-animados também podem ser usados para falar de coisas sérias, criando inclusive um género totalmente novo: o do documentário de animação.

A Valsa Com Bashir é a visão muito prórpia do próprio realizador Ari Folman da guerra do Líbano, em que participou quando era muito jovem, mas cuja mente se encarregou de apagar da sua memória como defesa automática às experiências traumáticas. Ari Folman tenta então exorcizar esses fantasmas, com epicentro no infame massacre das aldeias de Sabra e Shatila, entrevistando antigos companheiros de guerra e montando o puzzle com as várias peças que vai descobrindo ao longo do filme.

É uma espécie de Apocalipse Now animado, mas A Valsa Com Bashir não tem o impacto deste devido à animação. Para já, o género de desenhos algo artificiais começa logo por provocar um certo distanciamento com o espectador e, depois, nunca chegamos a conseguir estabelecer total empatia emocional com as estórias que ouvimos ser relatadas, por mais chocantes e cruéis que sejam. E não esquecer a banda-sonora de Max Richter, que nos seus momentos mais electrónicos também não ajuda a criar laços emocionais.

Talvez devido a este distanciamento entre público e factos reais, Ari Folman sentiu necessidade de mostrar aos espectadores imagens reais do massacre. Percebe-se a intenção, mas depois de um filme de animação, o facto de as únicas imagens reais com que somos confrontados serem as de cabeças cortadas e corpos empilhados soam logo a sensacionalismo barato. É o problema de Ari Folman falar de uma estória muito pessoal, que não lhe permite um certo distanciamento.

Mas não pensem que A Valsa Com Bashir é um mau filme ou que não vale a pena. Ari Folman é um rei da animação e reconstitui os relatos dos seus entrevistados com sequências oníricas, surreais e sempe com um toque artsy. Soldados a dançarem a valsa por entre chuvas de balas, telediscos war-rock à la Kalashnikov ou alucinações traumáticas com mulheres gigantes nuas, A Valsa Com Bashir casa Apocalipse Now com Fantasia e tem filhos muito felizes.

Pode não ser tão polémico como os israelitas dizem, pode não ser tão poderoso quanto gostaríamos que fosse e pode, simplesmente, não ter nada a ver com as expectativas que o trailer cria. No entanto, A Valsa Com Bashir é um excelente filme a ver, que vale um McBacon bem redondinho e sem espinhas.

Título: Vals Im Bashir
Realizador: Ari Folman
Ano: 2008

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *