| CRÍTICAS | Tudo Por Elas

É certo que o jazz e o western são os dois grandes contributos culturais dos Estados Unidos para a história da humanidade, mas existem mais uns quantos que merecem destaque… por tão absurdas que são. A saber: o basebol, o square dance (quadrilha?) e o cheerleading. Para entender as linhas seguintes, foquemo-nos neste último.

O cheerleading já não bastava ser por si só absurdo – e uma forma de reforçar as hierarquias de classe nos liceus norte-americanos -, como os americanos ainda o elevam a um outro nível, com competições nacionais de cheerleading. Todos os anos, claques universitárias de vários liceus norte-americanos reunem-se para disputar o título da melhor coreografia, sempre com as miúdas de mini-saia reduzida.

Pode parecer um fenómeno localizado, mas a partir do momento em que fizeram um filme como Tudo Por Elas, passou a ser um problema de todos nós. Tudo Por Elas é um teen movie de liceu com todos os códigos do género, mas com uma competição de cheerleading no meio. E isso basta se destacar (ligeiramente) dos seus semelhantes (não necessariamente pela positiva, claro).

Uma muito jovem Kirsten Dunst é então a nova capitã da claque do liceu Rancho Carne, campeãs nacionais do género, que descobre que todas as suas rotinas têm sido pilhadas do liceu de East Compton. As miúdas de East Compton, lideradas por Gabrielle Union, não só são badasses, como dançam melhor, saltam mais alto e têm melhores rimas. No entanto, nunca vão aos nacionais porque não têm dinheiro para se inscreverem. Este ano a coisa vai mudar, porque ambos os liceus vão competir. E se Kirsten Dunst quer preservar o título da sua equipa, terão que criar uma rotina nova completamente a partir do zero (ou então a partir da ajuda do coreógrafo Sparky Polastri (Ian Roberts), a melhor personagem do filme.

Tudo Por Elas utiliza para embrulhar esta premissa os elementos narrativos do costume: o namorado idiota de Kirsten Dunst que vai para a universidade, onde a trai todos os dias sem ela saber; a miúda nova da escola, too good for this shit, mas que acabará por se juntar à equipa e ser fundamental para o sucesso (Eliza Dushku); o irmão desta, que se tornará no interesse romântico de Dunst (Jesse Bradford); e todos os sistemas de poder dentro da hierarquia social da escola, com o bullying e todo um manancial de partidas cruéis que toda a gente aceita de forma natural, porque boys will be boys *encolher de ombros*. É que Tudo Por Elas é um daqueles filmes em que parece não haver adultos, já que os miúdos têm vidas sociais activas, aulas e treinos puxados de cheerleading, vivendo em casas enormes que aparentemente estão sempre desertas (exceptuando um irmão melga mais novo, claro; outro clássico dos filmes de liceu).

Tudo Por Elas têm um je ne se quoi de sátira a tudo isto, o mesmo estilo que encontramos em outros clássicos do género, como Heathers ou Eleições. Isso transpira especialmente das letras das rotinas de cheerleading, com rimas como
I’m sexy, I’m cute! I’m popular to boot!
I’m bitchin’, great hair! The boys all love to stare!
I’m wanted, I’m hot! I’m everything you’re not!
I’m pretty, I’m cool! I dominate this school!

mas que depois é tudo normalizado numa infantilização do filme, para que seja PG-13. Ou seja, há miúdas de mini-saia por todo o lado, sassyness, hormonas aos saltos e muita língua afiada, mas depois é tudo polidinho demais, para ser acessível a toda a familia. Por isso, nunca se percebe se a sátira é voluntária ou não. E é isso que tira a piada toda em ver um filme sobre cheerleading, onde os números são realmente entretidos. Mas pronto, Tudo Por Elas tem direito a um Double Cheeseburger e ao seu próprio lugar na história dos teen movies de liceu.

Título: Bring It On
Realizador: Peyton Reed
Ano: 2000

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