| CRÍTICAS | Death Game

Sondra Locke esteve 14 anos com Clint Eastwood e consta que passou as passinhas do Algarve com ele. Aliás, a actriz até o processou depois de terminada a relação, acusando-o de sabotar os seus projectos junto da Warner Bros. para que não fossem aprovados. Enquanto estiveram juntos, Locke apenas contracenou em filmes com Eastwood, que não a queria em filmes com outros homens. A excepção foi o experimental e pouco conhecido The Shadow of Chikara e este Death Game, o que nos leva a questionar como é que Sondra Locke, no meio disto tudo, acabou a fazer uma espécie de série b eroticofriendly. A resposta é simples: é que, apesar de ter estreado em 1977, Death Game foi filmado em 74, um ano antes da dupla se conhecer.

Death Game esteve assim na gaveta durante três anos, já que ninguém sabia muito bem o que fazer com ele. O realizador, Peter S. Traynor, apanhou a produção a meio e nunca percebeu muito em o material que tinha em mãos, os actores ficaram descontentes com o rumo do filme e o resultado final era, no mínimo… duvidoso. Contudo, Death Game tornou-se num filme de culto e o seu próprio lugar na história dos home invasion movies. Eli Roth, com a ajuda da própria Locke e da outra actriz, Colleen Camp, haveria de realizar um remake – Knock Knock, com Keanu Reeves – que actualizaria o filme e lhe daria alguma profundidade mais.

Death Game é então um home invasion, muito na onda de Brincadeiras Perigosas. Aliás, tal como no filme de Haneke, as invasoras também não têm propriamente um motivo para o que estão a fazer. Contudo, enquanto esses são niilistas nietzschianos, estas são niilistas mais na onda dos Looney Tunes.

Elas são Sondra Locke e Colleen Camp que, numa noite de chuva, batem à porta de Seymour Cassel, a pedirem ajuda por estarem perdidas. Com a mulher e o filho fora, Cassel acaba numa ménage à trois com as jovens que, no dia seguinte, o vão torturar até à loucura. O seu niilismo reflecte-se num comportamento totalmente desvairado, com muitos risinhos, gritos e alguma exploitation, o que ligado a uma realização psicadélica e a um tom mais negro, tornam o filme extremamente cansativo. Alguns momentos são mesmo inconsequentes e parecem não ter fim, como a horrível theme song – uma canção infantil que é bem provável que seja a pior theme song da história das theme songs -, que teima em tocar sempre interrupta, do início ao fim, em 3 minutos e 43 segundos que nos fazem apanhar cancro nos ouvidos.

Mas parece que isso funciona, porque no final Seymour Cassel está completamente exausto e traumatizado. Por isso, o cenário é perfeito para a estocada final, numa cena perfeita, tão gratuita quanto anarquista. Ao contrário do remake Knock Knock, Death Game termina no momento exacto. Quer dizer, mais ou menos. É que estou a ignorar que a seguir há uma última cena, tão desonesta que arruína completamente o filme (digamos que alguém esteve a ver demasiadas vezes o Easy Rider). Por isso, prefiro acreditar que essa cena foi imaginação minha e que o resto é um interessante Cheeseburger.

Título: Death Game
Realizador: Peter S. Traynor
Ano: 1977

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