| CRÍTICAS | Palmer

Palmer começa como começam muitos filmes norte-americanos: com um homem a regressar a casa. Desde sempre que este regresso é uma parábola ao mito do retorno do filho pródigo, mas no western – esse género tão colado ao mito fundado norte-americano – esse era também um gesto de punição, o do justiceiro que regressa para impor a lei e a ordem (mais duas palavras tão caras aos Estados Unidos). Em Palmer, esse homem é Justin Timberlake e o seu regresso a casa está antes ligado a outro tema também muito querido por esses lados: o das segundas oportunidades.

Haveremos de saber que Palmer acabou de cumprir 12 anos de prisão e, muito mais tarde, haveremos também de descobrir o motivo, uma sombra que há de pairar sempre sobre a sua figura. Quanto ao cenário, estamos no sul dos Estados Unidos, esse ambiente de rednecks e hillbillies que sempre foi romantizado em coisas como O Meu Nome É Earl, mas que no último ano e meio ganhou um rosto e um corpo, com filmes como Nomadland – Sobreviver na América ou Lamento de uma América em Ruínas. Essa é a América branca real, onde a pobreza continua a ser condição e a manter toda essa comunidade afastada desse outro mito fundador, o sonho americano.

Palmer vai então desenvolver uma relação de amizade (que começa por ser de desconfiança e desconforto) com Sam, o miúdo (óptimo Ryder Allen, que consegue ser tão irritante quanto empático) que vive no trailer da avó, até porque a sua mãe (Juno Temple) há de desaparecer mais uma vez durante uma boa temporada, nos braços da droga e dos homens. Sam é efeminado, gosta de brincar com bonecas e é obcecado por princesas, o que o tornam alvo dos bullies na escola, até porque estamos a falar de um território altamente homofóbico. No entanto, Sam é, tal como Palmer, um misfit e um marginal da sociedade, o que faz com que se identifiquem e acabem por criar um laço forte.

A amizade entre homem e criança também é um tema que tem estado presente no cinema norte-americano desde sempre, desde que Charlie Chaplin era vivo (olá O Garoto de Charlot), e, por isso, Palmer não nos é algo estranho. Justin Timberlake, em underacting quase minimalista, vai levando o filme às costas, numa realização tarefeira de Fisher Stevens, que vai atirando umas pedrinhas para a engrenagem, como se fosse isso a forma correcta para escapar a um certo esquematismo do argumento. Palmer revela-se filme simpático, mas com pouco mais a dizer além do esquecível, não fosse a boa prestação dos seus dois protagonistas. Safa-se o Cheeseburger, mas não há muito mais a acompanhar além disso.

Título: Palmer
Realizador: Fisher Stevens
Ano: 2021

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