| CRÍTICAS | Patrick

A ozexploitation, a indústria de cinema série b que a Austrália gerou durante cerca de uma década, foi um viveiro de muito cinema interessante – e muita xungaria -, mas exceptuando o primeiro Mad Max, nenhum teve sucesso internacional. Isso se não contarmos com Patrick, o thriller psicológico paranormal que construiu uma reputação de culto na Itália, gerando inclusive sequelas não oficiais e spin-offs.

O breve prólogo que abre Patrick mostra logo que este não é um filme qualquer. Com uma série de planos arriscados e pouco ortodoxos, o realizador Richard Franklin mostra que não está ali para brincar. Patrick pode ser um série-b, mas o realizador tem uma série de ideias para colocar em prática. E este pode não ter sido o seu trabalho de estreia – antes houve uma pornochanchada -, mas foi aquele em que teve carta branca.

Nessa introdução conhecemos então Franklin (Robert Thompson), um jovem com uma expressão facial muito particular e um olhar fixo, que ouve atentamente a mãe a levar para casa um homem. Depois de uma sessão de sexo barulhento, Patrick mata os dois numa cena bem gore na banheira. Ciúmes? Perturbação mental? Assassino em série? Um pouco de tudo isso? A resposta virá com o tempo. Até lá, Patrick vai ficar em morte vegetativa na cama de um hospital católico gerido por freiras, onde um médico que fala com grande pompa e circunstância como o Sideshow Mel o usa para umas experiências sobre a alma. Mas há um pormenor decisivo: Patrick tem sempre os olhos abertos e fixos!

Depois entra em cena a enfermeira Kathy (Susan Penhaligon), recém-contratada pelo hospital e recém-separada do marido, que vai ficar encarregue de tratar Patrick e que descobre que, além de ele cuspir de quando em vez, também comunica através de uma máquina de escrever. É Patrick a inscrever-se numa tendência de filmes sobre telecinesia que fez escola nos anos 70 e que tem em Carrie o melhor exemplar.

Sendo sempre mais sugestivo do que gráfico, já que tudo aquilo pode ser apenas a impressão da enfermeira, Patrick vai envolver-se na vida de Kathy e tentar manipular a sua relação com os homens da sua vida: o ex-marido (Rod Mullinar) e o novo amante, o doutor Wright (Bruce Barry). Tudo isso sem sair de um hospital numa mansão senhorial, que dá ainda mais laivos de Psico a Patrick, o que faz sentido porque a) Richard Franklin tinha esse como o seu filme favorito; e b) o próprio realizador viria a realizar, a seguir, a própria sequela, Psico 2.

Patrick é assim um inesperado filme bastante sólido, especialmente tendo em conta que estamos a falar de um tipo em estado vegetal que manipula coisas com a mente, tornando-se extremamente atmosférico graças à realização sempre inesperada de Richard Franklin. Além disso, há a prestação incrível de Robert Thompson. Apesar de passar o filme todo sem piscar os olhos (inaugurando aqui o truque que Jake Gyllenhaal haveria de repetir em Donnie Darko) e sem uma única fala, deitado imóvel na cama (também em Fim-de-Semana com o Morto Terry Kiser fazia o mesmo), Thompson tem uma presença hipnotizaste e perturbadora, que apenas precisa de esbugalhar os olhos para nos convencer. A ozexploitation teve muita coisa boa, mas acho que nada bate o Le Big Mac de Patrick. Talvez só mesmo a versão comercial europeia, para a qual os Goblin fizeram a banda-sonora.

Título: Patrick
Realizador: Richard Franklin
Ano: 1978

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